domingo, 26 de setembro de 2010

Amor, dor, ódio.

Você saberia me dizer o que é amar?

Se voce olhou para o outro lado, ou se apertou os lábios, piscou mais de uma vez, ou respirou fundo, é como o resto do mundo inteiro que lê essa pergunta.

Não sabemos o que é amar uma pessoa. Seria acordar ao lado dela pelo resto da nossa vida? Será que é suspirar toda vez que lembramos dessa pessoa, é relacionar a ela um perfume, uma música, um lugar?

Levantamos a sobrancelha sempre que pensamos nesses pontos. Olhamos para cima, procurando a nossa definição sobre o amor, só para descobrir que tudo o que sabemos sobre amar é simplesmente o que as outras pessoas nos falaram o tempo todo.

Mas, será que isso é ruim? Sei lá, é ruim para você? Gosta de acordar ao lado da pessoa que escolheu? Gosta de lembrar-se dela? Então, sinta-se feliz por saber o que é uma parte do amor.

Amor não tem o mesmo final de dor por coincidência. Na verdade, dor é mais fácil que amor. É só 1 letra a menos, e consegue sentir-se por mais tempo. Ela é a irmã gêmea invejosa do amor. Mais sofrido que o ódio. O ódio é o amante do amor e objeto de desejo da dor. Família com laços fortes, essa. Amamos para nos ferir e odiar a pessoa que seu pretendente ama. Acha difícil de acreditar? Faça as contas. Tudo se encaixa no quebra-cabeça.

Vou substituir minhas necessidades primordiais. Vou amar mais a mim mesmo, e deixar com que as outras pessoas me amem na mesma proporção. Quem sabe eu consiga a pessoa que eu quero?

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ironia

Deus reside na ironia. Na ironia das coisas que falamos e nos arrependemos, e convivemos com isso o resto da nossa vida. A ironia de ver um parceiro amado morrer e ainda persistir nesse mundo quando tudo o que quer é simplesmente deitar ao lado do seu amado na outra vida, se houver. Ironia de viver nos amargurando pelo que não possuímos, viver correndo atrás das impossibilidades, de tentar mudar o rumo das coisas quando não podemos, de tentar errar de propósito e acertar em cheio no seu alvo. Isso é Deus, ele vive em nós.

Dizem que Deus é amor. Não. Deus é isso, ironia. Ela nos persegue. Desde que eu conheci o verdadeiro significado dessa palavra, é como se quase tudo o que me lembro viesse carimbado com essa palavra, marcando em meu rosto a ferida correspondente. A dor causada pela ironia é diferente.

A dor do amor é de cor cinza, podre. A dor da perda é branca, vazia. A ironia não. Ela consegue ser a cor que mais odiaríamos ver no momento que ela acontece. Por exemplo, a ironia de ver uma menina que eu estava a fim beijando outro cara num show foi de cor negra, pulsante, como um cobertor de cetim escondendo um animal.  E olha que eu gosto de cores negras e cetim. Ela desceu pela garganta com gosto de féu, e quando alcançou meu estômago, conseguiu revolver-se como um turbilhão, e foi como se eu implodisse por um instante. Tudo isso numa fração de segundos. O que restou depois? A ironia, que me mostrava a cena a cada milissegundo, lembrando todo o ato, como um sádico amigo íntimo.

E depois dizem que Deus ainda é amor. Não. Mil vezes não. Deus não é amor. Amor é um sentimento dado por Deus por termos sido feitos à imagem e semelhança Dele, mas ele não é isso. Ele é irônico. Ele não joga dados. Ele sabe onde acertar, onde ferir. As feridas constroem os heróis, e que herói eu seria se não fosse a porra da ironia?

Acho que isso deveria ser lecionado nas escolas. Arte da ironia. Ela vem logo depois de um semestre de “introdução ao estudo do sarcasmo” e “intimidação para iniciantes”. Ficaria bem no currículo de qualquer um. Se alguém que está lendo isso não reparar que é vítima dessa pequena palavra, pense de novo. Estamos presos a ela, e ela nos prende, basicamente, a tudo o que temos. Se não fosse por ela, não estaríamos sequer vivos, pois quem nunca perdeu um onibus que foi assaltado, ou deixou de sair com os amigos e recebeu a notícia que houve um acidente de carro? Se você não passou por isso, está fechando aos olhos a ironia. Favor requisite seu curso “introdução ao estudo do sarcasmo” de novo.

Não que toda ironia seja ruim, longe disso. Mas o que ela dá, ela tira de outro lado. Isso é fato. Não podemos segurar todos os grãos de areia por muito tempo, uma hora aquela merda toda vai escorrer pelos nossos dedos, e ficaremos com pouca coisa. Melhor ainda, se quando a areia estiver escapando por entre seus dedos, uma ventania atacar e um pouco dessa areia cair nos seus olhos. A própria areia que você queria manter, acaba te ferindo. O que isso? Adivinha…

Talvez depois de alguém ler isso aqui, se sinta impelido a fazer alguma coisa a meu respeito. Não precisa. Eu me viro. Talvez alguém pense muito no que aconteceu, mas não precisa também. Isso não aconteceu. Ou aconteceu, não interessa. Uma pessoa vai se identificar com isso tudo, e vai se sentir mal, e vai passar o dia pensando em tudo o que aconteceu na sua vida, e vai acabar comentando isso com outra pessoa, que vai comentar com outra, e todos vão se sentir ligados por um impulso universal, que atinge a todos, desde a hora que nossos pais nos conceberam, na hora que nos tornamos fetos, na hora que nascemos, na hora que crescemos, que vimos tudo acontecer, na hora que voce está agora. E vão menear a cabeça, ou dar de ombros, e pensar: “é isso que eu chamo de ironia”…

sábado, 4 de setembro de 2010

O tempo, o pesadelo e a cova

O tempo deixa marcas maiores que simples rugas. Deixa cicatrizes. O vento corta nossos rostos, bem rente aos olhos, quando vemos uma pessoa que queríamos com alguém. E por todo o tempo que restar, até sua consciência parar de te torturar com a lembrança, voce vai pensar em porque não estava com ela no momento certo, porque não disse as palavras certas, porque deixou aquilo chegar naquele ponto. Serão tantas perguntas que voce vai franzir o cenho e ver que está sozinho. As pessoas continuarão vivendo suas vidas, pensando que voce está em crise existencial, mas somente quem passa por isso sabe o que é.

Mas voltando ao assunto “tempo”, acho que ele equivale a todas as burradas que voce já cometeu com outras pessoas. Quantas vezes dissemos que amávamos alguém sem sentir nada, não fizemos um pequeno teatrinho para não ficarmos sozinhos, ou maltratamos uma pessoa que nos amava usando uma palavra, ou então traindo, ou então deixando-a sozinha.

Tempo e pesadelos caminham juntos pela mesma escada que tentamos subir, à medida que envelhecemos. A cada degrau que vencemos, o tempo fica mais nebuloso, e os pesadelos tornam-se mais reais. Acho que, escrevendo isso aqui, eu começo a entender a cabeça dos suicidas. É mais fácil morrer que viver. Talvez, ele achou uma brecha no corrimão dessa escada, um momento que o tempo se descuidou, e então ele mergulhou de cabeça para o vazio pacífico que nada mais é que um buraco no chão. Antes tivesse escolhido ficar vivo.

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Gostaria de postar isso como o ilustre desconhecido, mas acho que várias pessoas se identificariam com as palavras, e cobrariam de mim as respostas que eu retenho com tanto zelo. Talvez um dia eu poste, como uma pequena história, o nome de todas as pessoas que conseguiram construir esse sujeito que vos escreve. Vou agradecer àquela pessoa que me visitou no meu trabalho, sentou-se a minha frente, enquanto eu trabalhava e andou comigo pelas ruas com uma garrafa de cerveja na mão para ouvir minhas esquisitices. Ou então àquela pessoa que eu devo a minha vida, que me estendeu a mão quando eu estava precisando, só isso.

Mas isso eu só farei com o tempo. Talvez eu escreva um livro sobre mim mesmo assim que o tempo mandar um pouco de luz por entre as nuvens densas. Se os pesadelos pararem de cortar minhas pernas com os espinhos, eu me sentirei confortável o suficiente para fazer o que eu quero. Poderia receber de Deus uma chance de caminhar por entre uns degraus sem dificuldade, ou então me dar um alívio de todas as minhas memórias. Mas enquanto não recebo essa colher-de-chá, eu vou ficando aqui, subindo os degraus, com cada nuvem negra em cima de mim, ou com cada espinho. A dor só aumenta a vontade de ver como isso tudo vai acabar. Não vou parar na falha do corrimão e me jogar, meu buraco no chão ainda está longe de ser cavado. Foda-se.

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sexta-feira, 9 de julho de 2010

O baile dos pecadores

Quero encontrar um pecador

que me ensine o que é o pecado

e junto com ele um santo

que me mostre o que tem isso de errado

Porque todas as consequencias desse mundo mal interpretado

é somente o sentimento de estar sempre errado

Sendo que tudo que me é oferecido

Vem de todos os lugares que tenho andado

Todos estão errados, todos temos pecado

Então porque viver pensando

que o paraíso mora ao lado

Sendo que no final, morreremos

não importa o quanto tenhamos nos comportado.

 

Bata em todas as portas

Ache todos as pessoas

Convide todas os amigos

Para o banquete de suas bodas

Não importa quantos anos tenha

já nascemos casados

Com esse sentimento

Que é saber que temos pecado

O pecado é o oposto do que não queremos

Não quero morrer como capuchinho ou santo

porque sei que até o último dia em que viveremos

nunca saberei até onde ou quanto

eu fui um pecador ou um santo.

 

Talvez não sejamos pecadores

no final de tudo

Se o que deixaram para nós foram somente dores

Sem nenhum sentimento substituto

Continuarei pecando o quanto quiser

Minha peça ainda não acabou

viverei enquanto puder

Até saber que nada restou

A todos os pecadores que compartilham meu pecado

Aos merecedores de todo o fardo

Larguem voces todas as suas cargas

encontrem com elas depois das noitadas

nas suas casas com telhados de vidro

e portas mal trancadas

Vistam suas melhores roupas

Hoje é noite de gala

Com todos os convivas pecadores

E sobreviventes de um mundo mal interpretado.

sábado, 3 de julho de 2010

Mudança (parte 1)

Ouço essa palavra o tempo todo. Arrisco a dizer que é a única palavra que eu ouço. Todo o tempo eu vi que uma mudança era necessária em todos os âmbitos da minha vida, desde meus erros até meus acertos esparsos.
Mas começei a pensar uma coisa: porque a mudança se faria necessária em meu caso, sendo que as pessoas que me falam para mudar me conheceram assim? E ainda mais, porque mudar? Perderia eu a minha essência, tornaria-me mais um na multidão de pessoas sem rosto, que lutam o dia inteiro somente para ter um carro do ano, uma esposa linda, um filho saudável e nunca se questionar como se sente por dentro?
Eu me pergunto como me sinto por dentro. Faço isso o tempo todo. Até demais. Sei que isso me machuca muito, mas é necessário para mim. Como posso mudar e parar de me perguntar isso, se sei que, pela minha imperfeição eu vou errar de novo, e vou me deprimir de novo, e começar do zero, perseguindo sonhos comuns às massas, até o dia que eu fechar meus olhos e me deitar em uma caixa para ser guardado como adubo.
Sei que fiz coisas erradas no passado, e por isso peço desculpas, não pelos outros serem culpados, mas por eu não ter visto na época o que eu vejo hoje em dia. Peço desculpas aos meus amigos, quando queriam conversar, e eu não tinha tempo para eles. Peço desculpas à minha mãe, que tanto tentou me alertar o tempo todo, das coisas que estavam por vir, e eu não prestei atenção. Peço desculpas aos meus irmãos que queriam me dar conselhos quando eu estava preocupado demais comigo mesmo. Desculpas às minhas ex-namoradas, quando diziam que eu precisava mesmo crescer e passar por muita coisa sozinho, enquanto eu achava que tinha conhecimento o suficiente para tudo. Minhas ex-esposas, pela carga de tristeza e decepção que eu trouxe quando pensava que estava crescendo em algumas coisas, mas permanecia parado em algum lugar, enquanto a vida simplesmente acontecia. Meus relacionamentos depois dos meus fracassos, que sempre queriam uma companhia estável, ao invés daquela pessoa que se perguntava o tempo todo como alguém poderia me achar imperfeito.
Acho que isso tira de mim toda a parcela de culpa que eu sentia esse tempo todo. Se alguém conhecido vai ler isso, eu não sei. Talvez leia e nunca me fale, ou talvez leia e ache que é tarde demais. Mas não tem problema. Só o fato de eu ter admitido isso já está bom, não é?
Abandono minhas máscaras agora. Esse é o primeiro passo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Que hoje seja o dia.

 

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Que hoje seja o dia exato para toda a mudança. Que voce acorde de manhã pensando naquilo que você quer. Pense em tudo o que vai ganhar se disser àquela pessoa que você o ama, peça um beijo a ele, sinta-o perto de você, sinta seu perfume, seu toque… ame-o.

Saia pela rua, caminhe para o seu trabalho, não pelo canto da calçada, mas ande bem no meio da rua, para que todos possam vê-lo. Até as pessoas próximas da sua casa não o conhecem até hoje. A partir de hoje, seja a pessoa mais conhecida do seu mundo. Não dê oportunidade para que alguém diga que não o conhece.

Que hoje seja o dia em que você deu a volta por cima de todas as palavras grosseiras ditas contra seu amor, contra sua amizade. Que tudo o que foi dito seja arremessado contra os atacantes com todo o charme e sutileza que só voce tem. Aja contra seus antigos amigos hipócritas como se eles não existissem, e não se atreva a olhar para trás quando lhe chamarem. Eles são passado, e você é o futuro.

Que hoje seja o dia que sua loucura vai se apresentar a todos os seus inimigos, com seu melhor sorriso sarcástico e suas roupas espalhafatosas. As pessoas ficarão com medo da sua alegria, e esconder-se-ão debaixo de suas camas, maquinando coisas mesquinhas contra outras pessoas que eram como você. Porque hoje você não é mais aquela pessoa que eles conheceram, humilharam, espezinharam e maltrataram. Hoje você comanda o show.

Cutuque o sol por cima das nuvens e obrigue-o a brilhar o máximo que puder, porque hoje é seu dia. Hoje nem mesmo as cartas dos antigos namorados, que ficaram gravados no seu coração vai servir de pretexto para sua tristeza. Hoje suas paredes de desilusões serão tapetes para seu desfile.

Que hoje seja o dia que todos saberão que a pessoa que voce era antes de hoje não existe mais. E que tudo depois disso não será uma mera repetição.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Futuro.

Marque um ponto de partida na sua vida. Depois disso, vá andando pra trás, até chegar ao acontecimento que o levou até aquele ponto que você marcou. Avance de novo até o ponto marcado e o exclua. Veja agora o que sua vida tornou-se.

É difícil para nós aceitarmos algumas coisas do passado, não é mesmo? Algumas palavras ditas, um beijo que não demos, um aperto de mão que esquecemos, e todos os acontecimentos após isso tornam-se confusos até hoje.

Por muito tempo pensei que se eu possuísse uma máquina do tempo, iria mudar tudo o que já foi feito no passado. Mas isso seria tão estranho, pois assim eu não conheceria as pessoas que hoje eu considero meus amigos, estaria em outro lugar, com outras pessoas que já tinha me acostumado a viver separado… eu sequer saberia se eu estaria vivo hoje.

Acho que o passado é assim, tão traumático porque ele nos dá referencia de tudo o que aconteceu antes, para que não façamos de novo. Se alguma pessoa dissesse pra mim que eu ia sofrer com algumas decisões que eu tomei, acho que não acreditaria nela. Eu tinha que viver por mim mesmo, provar as dores para saber que realmente era uma coisa ruim.

Hoje em dia, eu ainda penso no passado. Quem não pensa? Todos estamos presos nas velas do presente, e olhando pra trás. Mas o importante é que hoje eu sei o valor que todas as coisas tiveram para mim. Por mais sofrimento que eu tive, eu sei que, mesmo nos meus dias chuvosos, havia um sol lá em cima que me mostrava se era dia ou noite. Isso me deixa feliz o bastante para continuar preso às velas, olhando para trás, mas pensando no meu futuro. É somente isso que me importa.

domingo, 13 de junho de 2010

Fim

Esse é o ponto que eu marco toda a mudança na minha vida. O que era muito importante para mim um dia, tornou-se motivo de minhas mágoas ontem, hoje é nada, e amanhã terá sumido.

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Estive por todas as partes do mundo e não reparei nisso. Chorei quando tinha que rir, ri quando tinha que dançar, e dançei quando tinha que fugir. As satisfações foram dadas de formas erradas. A minha vida tornou-se uma roleta russa.

Mas isso é o fim. Acabou-se todo o sentimento. Acabou-se as satisfações. Todo o amor que eu sentir doravante pertencerá a mim e a pessoa que a merecer. Toda minha loucura vai voltar no ato de viver como eu sempre quis viver, porque eu já gastei tempo demais pensando em parar. A vida me presenteou com o que ela tem de melhor. E os deuses olham por mim de algum lugar que eu não conheço.

Esse é o fim. Minha loucura e impertinência, minha teimosia e minha raiva, meu ódio e meu amor, pertencerá somente a mim. Sou o que era antes de tudo, e serei o que quiser.

Se o futuro a Deus pertence, peço a ele que apague todas as linhas da minha vida futura. Porque tudo o que parecer determinado, eu questionarei. Sou um arquivista, e posso mudar o que eu quiser.

Que todas as pessoas que se importam comigo mostrem seus atos de preocupação, e que todos os que não importam na minha vida partam sem deixar nem sequer as amarras das suas cordas no meu porto.

Fui eu quem começou tudo isso, e agora ponho o fim. Às pessoas que esperam por isso, vibrem. Aos outros, que vão se irritar, não posso fazer nada. É o meu navio que está partindo. E é a minha vida que está em jogo.

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Esse é o fim. Obrigado a todos, que me mostraram que há mais nas letras e palavras que eu escrevo do que eu mesmo pensava existir. Saiba que também vocês, que me ajudaram, estão contidos nessas linhas, desde o começo. Mas isso é mais coisa minha mesmo.

Alea Jacta Est

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sábado, 12 de junho de 2010

Feliz dia dos namorados

Feliz dia dos namorados a todos que são apaixonados. A todos que acordam com a certeza de estar com a pessoa certa, que estão com sua cara-metade. A todas as pessoas que hoje sonham com seus amores, estejam eles longe ou perto.

A todas as pessoas que vivem na premissa do amor que foi-se e vai retornar um dia. A todas as pessoas que sofrem por um amor, mas sabem que a separação é a melhor opção, sim, essas também merecem as felicitações.

Para aqueles que estão sonhando em pé ou ainda não levantaram da cama, para todos aqueles que estão esperando o namorado ligar para dar os parabéns. Para todos os solitários que hoje sabem que é melhor estar sozinho. Para os que ouvem músicas de amor, os que estão chorando olhando para as fotos, para os que estão vendo seus amores com outras pessoas, para os que tiveram que dizer não quando deveriam dizer sim. Para tudo o que significa o apelo no amor.

Feliz dia dos namorados para mim, o que escreve nesse lugar. Feliz dia dos namorados para voce, que lê isso. Felicite a todos que encontrar. Todas as pessoas, todos os amigos, todos os estranhos. Nunca se sabe se uma dessas pessoas vai tornar-se seu namorado.

Aqui vai uma coisa que lembra bem esse dia. Tradução abaixo.


Küss Mich/Beije-me

Eu sei, eu sei como você chama
Eu sei, eu sei o que você pratica
Não posso mais dormir, não posso mais comer
Eeu sou para sua vista um louco
Eu sei, eu sei, como você sente
Eu sei, eu sei, quando você mente
Entre o buraco da fechadura, eu irei me rastejar
para sua alma alcançar
meu espirito flutua sobre você
Você pode me salvar com teus beijos

Beije-me
Beije-me
Beije-me apenas mais uma vez

Eu sei, eu sei, como você dorme
Eu sei, eu sei, como você vai
Minha força entra em ebulição
Eu venho de quatro me rastejando
Eu sei, eu sei, como você cheira
Eu sei, eu sei, quando você ama
Entre as paredes eu irei me esticar
Me encaixar em você
minha alma flutua sobre você
você pode me salvar com teus beijos

Beije-me
Beije-me
Beije-me apenas mais uma vez

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Seja toda a situação que quiser ser.

Você chegou cedo em casa, e me viu ___________ (sentado no sofá / deitado na cama / em pé na sala) lhe esperando. Largou calmamente sua __________ (sandália / garrafa de vinho / bolsa) na cadeira e veio me ______________ (beijar / acordar / acusar). Tínhamos muito a conversar.

Você estava ____________ (cheirosa / nervosa / cansada) como sempre. Estranho como ainda me sinto _______________ (apaixonado por / enojado com / preso a) você. Foi só lhe ver passando pela porta e tive um ímpeto de _______________ (te beijar / discutir / ir embora). Acho que é recíproco.

Eu fui ao seu encontro e __________________ (tomei-a em meus braços / expus minha revolta contra seu ódio / perguntei o que seria de nós). Você não ________________ (ofereceu resistência / deixou de gritar / esboçou reação).

Logo éramos __________________ (uma massa de um corpo só / dois inimigos íntimos / dois estranhos), se esgueirando pelas paredes ao longo do corredor a procura da porta do quarto. Afinal, _____________ (nós nos queríamos / você estava bêbada e eu com ódio / você estava cansada).

Ouvi seus _____________ (sussurros / gritos / bocejos) enquanto ________________ (deitava na cama / arrumava suas malas / tirava sua roupa). Não foi nem tão rápido para estragar o momento, e nem tão devagar para me tornar enfadonho. Queria ___________________ (que você fosse embora / que esse momento durasse para sempre / que você me mostrasse o que aconteceu). Seu ___________________ (corpo me queria com você / coração me queria morto / descaso me queria longe), e eu queria lhe dar o que você precisava.

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Você foi rápida ____________________ (ao me acusar / a me expulsar / ao me despir). Eu era __________________ (seu algoz e você minha assombração / seu nada e voce minha mancha / seu amor e voce era minha amada), como tinha que ser por todo o tempo. Nossos corpos sabiam cada pequeno ato a ser executado na sinfonia ________________________ (que era nosso amor / que era nosso combate / que era nossa rotina). Olhávamos nos olhos um do outro, e ao invés de dizer _______________________ (“eu te amo” / “eu te odeio” / “eu estou cansada”), bastaria dizer somente “eu sei”.

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O ___________________________________ (seu amor e minha fascinação / seu descaso e minha indignação / seu ódio e minha raiva) deram conta do recado. Depois de tudo que passamos, do longo tempo em que nós ____________ (lutamos / ignoramos / devoramos), ainda sentia _____________________ (seu coração batendo enquanto te beijava suamente / seu rancor pulsando enquanto falava que estávamos acabados / seu cansaço quando perguntei o que sentia). Não haveria nada que eu quisesse mais do que _______________________________ (ter você nua nos meus braços / ver você me abraçando / ver você partindo). Pedi para você ____________________ (me dar um sinal / ir embora / nunca me deixar). você riu baixinho. Disse que _____________________(não conseguiria, mesmo que tentasse / não tinha nada para dizer / que ela iria mesmo que eu não deixasse). Eu disse que te amava, enquanto ____________________________ (mexia os cabelos contra meus olhos / via você partindo sem olhar para trás / ouvia sua respiração ficar mais lenta até você dormir). Fechei os olhos e pedi silenciosamente que me desse forças para _________________________ (suportar toda a dor / acabasse logo com isso / te amar a cada dia mais). Porque eu te amo.

Somos quem sempre queremos ser. Se tudo que você tem na vida são mágoas e ressentimentos, não espere conseguir resultados diferentes fazendo as mesmas coisas. Se pensa que todo mundo é imperfeito, eis que olhamos nos outros toda a imperfeição que carregamos em nós. Se ama demais, aprenda que amar não é sempre pensar que o seu parceiro será perfeito, ou que nunca a magoará. Somos humanos, e não máquinas. O amor cresce com tudo o que colocamos nele, desde que dosadamente. O amor não mente, não se ilude, não engana. Mas não “somos” amor. Somos mensageiros do amor. Podemos omitir informações, podemos sonhar um pouco, podemos enganar e sermos enganados. Mas na hora que você olhar nos olhos daquela pessoa que você ama, e souber, tiver a certeza que ele te ama com a mesma intensidade, sem egoísmo, sem relatividade, sem barreiras, aí sim, você será mais que um mensageiro.

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Amizade.

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Analisei por um tempo como funciona o mecanismo louco de amizade. Ele torna-se mais louco que o próprio amor. Porque ele não precisa necessariamente ver os erros do outro, nós somos amigos porque somos amigos e pronto!

Acho que a amizade é complicada porque ele lembra um pouco o amor. Dizem que a amizade é um amor que nunca morre. Será? Algumas vezes recebemos cada punhalada das pessoas que dizem ser nossos amigos, que quase matam o corpo, o que dizer desse sentimento?

“Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos”, disse Sócrates. Isso começa a ter sentido se analisarmos o porquê de começarmos uma amizade. A amizade é uma troca de sentimentos e até mesmo uma inveja saudável do jeito da outra pessoa que recebe o nosso sentimento.

“A melhor maneira de começar uma amizade é com uma boa gargalhada. De terminar com ela, também”, disse o grande Oscar Wilde. Caramba… sempre achei que Oscar Wilde não pertencia a esse mundo. Muitas das minhas amizades começaram com uma piada. Foi ficando séria, tornou-se um tanto rígida por algum tempo, veio a teimosia, veio as discussões, e por fim, quando temos nossa última conversa, alguém vai rir desdenhosamente do sentimento do outro e pronto, lá se vai o barquinho do antigo amigo rumando pelos mares da vida.

“A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro”. Platão disse isso, acho, que como um lembrete para mim. Acho que tenho amigos que não são tão ciosos com minha felicidade… Acho então que isso não é amigo, mas sim uma companhia pelo caminho que você está percorrendo.

“Nunca foi um bom amigo quem por pouco quebrou a amizade”, esse é um provérbio popular. Ele é show. Eu já tive tantas discussões com amigos meus, já caí na porrada com alguns, mas depois tudo se esquece.

“A amizade é o amor sem asas”. Grande Lord Byron. Isso sintetiza muito do que eu pensei. Mas isso é coisa minha.

Por último, um ditado que eu sempre imaginei, e ele sempre teve muito a ver com tudo o que acontece hoje em dia. É algo que as pessoas devem ter gravadas na cabeça e no coração, pois nada é tão perfeito para durar para sempre mediante tantas provações. Ouvimos coisas de nossos amigos, suportamos intempéries, passamos por dificuldades, carregamos os problemas, mas chega uma hora que a linha que suporta toda a amizade fica tênue.

A verdadeira amizade é como a saúde: o seu valor só é reconhecido quando a perdemos. – Charles Colton

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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sim, não e talvez

Talvez eu fosse mais feliz se parasse de escrever as coisas aqui. Se eu fosse mais um, aquele que acorda pensando na hora de ir dormir, que não pensa nada além das  coisas que ele vai ter que fazer durante o dia, que não imagina um mundo além da janela do seu quarto.

Talvez o mundo se tornasse menos colorido e mais preto-e-branco, se eu fosse igual a todo mundo. Se eu fosse igual a todo mundo, talvez as feridas das paixões não machucariam meu rosto, todas as indiretas que eu ouviria da pessoa que eu quero soariam como simples provocações, e eu seguiria minha vida sem ligar para isso. Mas talvez seja porque eu escrevo as coisas aqui, ou talvez eu quero ver o mundo além da janela do meu quarto.

A essa altura você deve estar se perguntando o que há além da janela do meu quarto. Meu mundo é perfeito, eu seria amado na mesma intensidade que eu amaria, não me sentiria sozinho, não ficaria triste toda vez que eu pensasse que tenho alguém, pois não haveria motivos para isso. Não haveria motivos para brigas, eu saberia que sou amado pela primeira vez em muito tempo. Talvez eu saberia que sou amado pela primeira vez na vida. Quem diria isso, certo?

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Mas toda a probabilidade do “talvez” esvai-se entre meus dedos quando penso nisso. Acho que eu exigo demais de mim, talvez. E se o mundo não estiver errado, e sim eu?

Se eu seguisse o mundo inteiro, será que eu pararia de escrever as coisas aqui? Ou será que eu escreveria sobre coisas aleatórias e menos extravagantes, e todo mundo leria, e me seguiria, e eu ficaria famoso? Talvez.

O talvez persegue a todos por toda a vida. O que fazemos do talvez para que ele se realize é que importa. Se nos alienarmos do mundo, alguns talvez não se concretizariam, mas isso traria outros “talvezes”.

Que dificuldade pensar nisso! Talvez eu devesse parar de pensar nisso, e ficar olhando pela janela do meu quarto, sabe…window

Caos no Jardim e Gotas de tinta

Pinte meu céu com seu caos, não deixe espaço para o céu azul. As nuvens brancas também não importam. Espero que voce consiga deixar tudo bem cinzento. Eu estarei sentado na grama, vendo você gritando, urrando, xingando e praguejando enquanto continua a pintar sua tela em meu mundo. Vou levantar e oferecer uma xícara de chá enquanto vejo todo seu ódio contra meu pedaço de paraiso sendo exposto de forma tão fria. Conte tudo, assim como tudo o que aconteceu antes. Fale das suas decepções, da sua vida amorosa, dos seus traumas, e eu estarei procurando na cesta a minha garrafa de rum. Farei seu ódio parecer uma sinfonia de Beethoven.

Quando terminar de descolorir meu céu, começe a arrancar toda a alegria do meu bosque. Derrame toda a sua fúria em meu refúgio. Eu não darei a mínima. O que é um pouco de nervosismo, não é? Vou olhar para cima e abrirei minha capa por cima da cabeça, pois começa a ser formar um borrão negro de chuva.

Vou olhar meu relógio para ver quanto você demora para terminar de desconstruir meu mundo. As gotas da tempestade começam a cair, o chão sem vegetação alguma começa a mostrar os sinais do ataque das gotas. Elas mancham todo o assoalho com a tinta cinza com que pintou o céu.

Seus amores passados, seus dias de festa e seus dias de tristeza, tudo será arquivado por mim. Não tem problema. Eu já tive minha cota de problemas por tanto tempo, o que custa ouvir os problemas alheios…

Meu terno grafite começa a mostrar os sinais que minha capa de chuva não é tão resistente assim à tempestade que voce causou. Manchas começam a aparecer aqui e ali. Minha camisa branca recebe uma gota certeira. Vou recolher acampamento e vou atrás de você, com a capa de chuva por cima da cabeça e a garrafa de rum na mão.

Verei você gritar em resposta aos trovões. Vai juntar suas lágrimas com a tinta que está caindo dos céus que você pintou. Elas atingem o chão e formam uma nova vegetação. Não existe nada que não floresça no meu jardim.

Quando sua fúria chegar a sua totalidade, e você se der por vencida, eu estarei por perto. Ofecerei minha ajuda, um lugar embaixo da minha capa de chuva. Vai te abrigar como uma jaqueta velha, mas servirá. Vou te escoltar até sua casa. Lá, você poderá encontrar um pouco da sua paz. Enquanto estiver sentada em sua poltrona na varanda, eu vou arrumar os cabelos com a mão, colocarei a capa de chuva por cima do que sobrou do meu terno, e vou me despedir. Vou voltar para meus dominios. Consertarei todo o caos e vou sentar-me para tomar meu rum. Ficarei em paz até o dia que você precisar, de novo. Aí será mais um dia de caos no meu jardim. Mas o que é um pouco de caos, não é?

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Rapaz e a estrada.

 

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Essa é a história de um garoto que não sou eu, que não é você, que não é ninguém. Desde pequeno ele quis o mundo, mas o que ele conseguiu foi uma alienação de seus sonhos, e ele tomou a estrada que poucas pessoas seguem.

A vegetação naquele lugar era grossa, difícil de abrir caminho. Mas o rapaz não quis saber. Ele continuou seguindo pelo caminho, ora desviando dos espinhos, ora recebendo no rosto toda força do impacto. Ainda conseguia ouvir, durante seu percurso, a voz de seus amigos que o chamavam e pediam para desistir. Mas o caminho que os outros estavam não era o caminho que ele queria seguir. Não havia sentido naquilo tudo que ele vira desde pequeno. Deveria haver mais alguma coisa no mundo além do que ele “aprendera” a amar.

No meio do caminho, ele encontrou outras pessoas. Alguns deles estavam perdidos, outros tinham parado no meio do caminho e construíram ali sua habitação, tamanha era a fraqueza para percorrer toda aquela via Crucis. Alguns outros eram personagens de suas fantasias. Ele aprendeu a conviver com fadas, elfos, bruxas, vampiros e lycans, espíritos bons e ruins, e então ele começou a achar que o caminho não era tão solitário quanto antes.

Foi ali que ele entregou seu coração pela primeira vez. O garoto sem nome adotou um apelido: “marido”. Viu o sol poucas vezes, mas isso não importava, pois achava que estava feliz. Todos os dias ele acordava achando que sua vida tinha virado o conto-de-fadas que ele vira no passado. Queria ficar ali para sempre.

Mas tamanha ironia do destino, o lugar onde ele estava morando era vivo, e começou a manifestar-se de forma complicada. As pessoas, outrora tão felizes, mostraram toda sua tristeza por não conseguir sair daquele lugar. “Mas eles nem sequer tentavam”, pensou o garoto. Ele decidiu ajudar aquele povo a sair dali. Conversou com um, incentivou outro, e então aconteceu justamente o contrário. Ele foi expulso daquele lugar onde estava, porque era “alienado” demais para ficar ali.

Ele ainda ficou parado na beira do caminho onde fora largado pelo povo, pensando o que tinha acontecido de errado. Mas não teve muito tempo a perder com isso. Ouviu canções que gostava, ouvia risos em algum lugar, e rapidamente passou a perseguir aqueles sons. Viu que, conforme ia andando, a vegetação tornava-se mais espessa e menos seca. Exultou quando achou a primeira folha verde na relva. Passando por ela, uma árvore enorme apontava o caminho que deveria seguir. E além dela, um oásis aguardava por ele. Correu ao encontro daquele sonho, viu cachoeiras, ninfas, viu crianças rindo e correndo, viu uma banda tocando antigas cantigas com um compasso incrivel. Foi bem recebido por todos. Tornou-se parte de uma família que vivia rindo, e ele foi ajudado a curar suas feridas. O passado tornou-se uma pintura na parede do coração, e ele pensou em seguir seu rumo.

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Mas o povo dali disse que não seguiria o caminho com ele. Para eles, o caminho acabava ali. Não havia necessidade de continuar procurando o que eles tinham achado. O garoto pensou em todo o povo parado no meio dos espinhos, que ele tinha convivido por algum tempo, achou que era impossível parar de seguir em frente. Tinha que haver mais alguma coisa além de acordar e dormir, de comer e brincar, de cantar e sorrir. Mas o povo dali não sabia responder o que era isso que ele estava procurando.

Ele decidiu partir sozinho. Largou na cachoeira o colar de flores que tinha recebido, jogou fora o anel que recebera do povo dos espinhos e seguiu em frente. Viu o sol parado por trás dele, recusando a sua luz a cada passo que ele dava. Mas não poderia haver só aquilo, pensava o rapaz sem nome. Ele correu o máximo que pôde para fugir das memórias. Elas eram sorrateiras e o feriam toda vez que o alcançavam.

Andando, andando e andando, chegou a uma casa abandonada. Achou-a simpática e conservada. Entrou ali, chamou pelo proprietário que não respondeu, mas achou uma carta na porta. Dizia que o dono partiu para procurar o que ele achava que tinha perdido, e não tinha pretensão de voltar enquanto não achasse. O garoto exultou. Então havia pessoas como ele! Depois que descansar, pensou ele, eu vou atrás dessa pessoa.

Mas ele descansava, descansava, e nunca estava descansado para partir. Sempre havia alguma coisa a fazer na casa, uma reforma, uma limpeza, uma pintura…e ele ficou por ali por muito tempo reformando aquele lugar. Esquecera-se completamente que aquela casa não era dele. Mas não importava. Queria cuidar de tudo. Quem sabe um dia, quando o trabalho estivesse pronto, ele teria força para sair dali.

Um dia, resolveu limpar as janelas do andar de cima da casa. Quando o vidro tornou-se claro, avistou ao longe uma pessoa que chamou sua atenção. Ela era diferentemente igual a tudo o que tinha visto antes. Algo como a junção do povo dos espinhos com o pessoal que morava no oásis. Logo viu-se olhando para aquela figura. O jeito como arrumava o cabelo, o jeito de se vestir, o modo de falar, de sorrir, tudo aquilo chamou a atenção.

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Ela também reparou que ele estava olhando. Chamou-o para fazer companhia. Ele correu, saiu da casa e foi até ela. Conversaram por horas. Sobre os medos dele, ela deu conselhos. Sobre a insegurança dela, ele ofereceu ajuda. Sobre os amores passados, os dois falaram, mas alguma coisa soava diferente.

Ele voltou para casa, e ela ficou na casa dela. Eles se visitavam de vez em quando. A relação ficou mais forte, e o garoto começou a pensar nela. Ajudou o quanto pôde, ela percebeu o que ele sentia. Eles decidiram fazer sua história. O garoto sem nome pensou em tudo o que tinha passado, sobre as decepções que tinha sofrido, mas achava que aquilo não aconteceria de novo. Pensou em entregar seu coração de novo.

Mas no dia em que ia dá-lo de presente, ele viu que ela estava diferente. Já não sorria com ele, não tinha paciência para ouvi-lo. Ele viu então o que ela escondia. Voltou para casa e lá chorou tudo o que não tinha chorado por anos. O coração esvaziou-se ali. No dia seguinte, para variar, acordou cansado. Mas isso não seria mais impecilho. Ele partiria daquele lugar. Já tinha ficado tempo demais parado ali. Colocou o bilhete de volta na porta, com algumas alterações. E partiu. Ainda ouvia a vizinha e chamando por ele, mas ele não olhou para trás. A estrada seria sua única companhia.

Ainda se fala no rapaz sem nome, que tomou seu rumo para algum lugar. O povo da cachoeira fala que ele era louco. O povo dos espinhos fala que ele era um medroso. A vizinha não fala muito nisso.

Se ele conseguiu encontrar o que procurava, eu não sei. Na verdade, eu nem sei se eu mesmo o encontrei ou se me contaram essa história. Talvez sejamos nós mesmos um pouco como esse garoto sem nome. Ou então somos o povo dos espinhos, ou a familia da cachoeira… Somos quem queremos ser.

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sábado, 5 de junho de 2010

Um texto sem nome.

Agora chega de falar de amor. Falemos de uma coisa que atinge a todo mundo, mesmo que eles mesmos nunca admitam.

Todos somos loucos, disse um amigo meu outro dia. Acho que ele tem razão. Veja bem: nascemos completamente indefesos, sem nenhum manual de sobrevivência, passamos a crescer pouco a pouco, e justamente na fase que mais precisamos de carinho nós vemos nossos pais brigando, discutindo, nossos irmãos brigando pelo carrinho de corrida, a professora na escola continua todo o nosso processo de castração, já iniciado em nossos lares, nos ensinando o poder esmagador de um “NÃO” bem na nossa cara. Choramos mais e somos menos atendidos. Começam as cobranças para virarmos adultos. Todo mundo começa a falar: “nossa, voce já tá um homenzinho”, e essas palavras ficam encrustadas em nosso coração, começamos a achar que deve ser o máximo crescer para irmos onde quisermos, fazermos as coisas sem dar satisfações a ninguém. Pensamos tanto nisso que perdemos uma parte da nossa infância. Todo o sistema de repressão começa a destruir todas as bases da nossa felicidade. No lugar de brincadeiras, um sistema militar de ensino. No lugar de carinho, o tapa dos pais, dos irmãos, dos amigos da escola e até mesmo da professora. E fora isso começam os tapas psicológicos, nos chamando de “palhaços”, “idiotas”, “imbecis” para cada ato nosso que se mostra diferente da maioria.

 

Aí, exatamente nessa parte, quando temos cerca de 2 a 4 anos, é que nosso Olimpo desvanece na nossa frente. Os professores chamam nossos pais para conversar, dizer que somos diferentes, que deveriam dar uma atenção especial. Ouvimos palavras que não entendemos, como “hiperativos”, “super dotados”, “déficit de atenção”, “disperso”… A única palavra que começamos a relacionar isso é aquela que nossos Lost_Childhood_by_natsfrpais mesmos nos ensinaram: BURROS.

Tornamo-nos burros porque não queremos viver conforme as outras pessoas nesse mundo. Deixamos nossas aspirações de lado, começamos a dar duro na escola, que mais parece uma masmorra. Nas aulas de história começamos a nos identificar com heróis do passado, que foram mortos, ou pela forca, ou queimados, ou fuzilados, ou torturados. Sabemos que todos eles foram crianças como nós, “hiperativas”, “especiais”, “super dotadas”, BURRAS.

O jardim de infância passou faz muito tempo, e ele não nos deixou levar nada. As lembranças não são melhores. O que ele tomou de nós, isso sim temos saudade: nossa livre inocência.

Somente quando estamos bem adiantados nisso tudo, nessa corrida maluca que chamamos de vida, é que começamos a ver o que poderíamos ter feito de diferente no passado. Mas, para que isso importa? Será que se eu não tivesse saído de bicicleta naquele dia, eu teria me quebrado menos? Será que meu pai teria menos rancor se eu não tivesse me mostrado um ator nato em todas as situações que ele tinha que comparecer à escola para ouvir reclamações a meu respeito? Minha mãe me amaria mais se eu tivesse chorado menos e sido mais “adulto” aos 5 anos? O passado é o nosso pior inimigo. Ele nos faz chorar de tristeza por causa de acontecimentos felizes de anos atrás, nos faz rir de situações que morríamos de ódio há algumas décadas. Ou seja, ele trata de inverter os sentimentos depois de um tempo.

Aí, depois que nos tornamos adolescentes, começamos a pensar em mudar tudo, mudar todo o sistema que vivemos, os ideais de igualdade afloram aqui e ali, mas de nada serve. Conhecemos uma pessoa que amamos loucamente, os ideais são enterrados pelo amor vitimado, o mesmo que vimos nossos pais sofrendo quando éramos pequenos. Não nos lembramos, nesse momento, das brigas que eles tinham. Se lembrássemos disso, acho que nunca pensaríamos em ter alguém. Mas esquecemos rápido.

O que acontece depois é que nossos pais começam a sair dos primeiros lugares da montanha-russa que estamos, para nos dar lugar privilegiado de todo o desastre que vai se seguir. Recebemos na cara todo o ar frio da realidade, cortamos nossos rostos com as decepções que vem em ritmo frenético, somos chutados para fora do banco quando o carrinho atinge um quebra molas. Tudo isso ao som de cantigas infantis, letras apaixonadas e sons indistintos das pessoas que pedem para que sejamos corajosos, que continuemos seguindo até o fim, para sermos homens, para não sermos como nossos pais, que fizeram as coisas erradas. Num loop repentino, nosso parceiro é arrancado do nosso lado. Nossa corrida começa a ficar mais escura, e pensamos o tempo todo em voltar a ser criança, para voltar à época que ficávamos embaixo do cobertor, esperando o dia amanhecer e ver que tudo era um sonho. No final, somos só nós, com nossas ilusões, nossos traumas, nossos adjetivos e predicados, num carrinho de montanha-russa velho.

Já conseguiu ver do que se trata o texto? Consegue ver o que é “isso”, que atinge a todos? Bem vindo a sua vida.

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

A pedra de toque

Sempre pensei que histórias de amor não são feitas para durar tanto quanto pensamos. A não ser quando duas pessoas são realmente apaixonadas, que transformam a paixão em um amor dependente, uma coisa que transcende o tempo. Mas essas são exceções. ´

Às vezes nos descobrimos gostando de alguém. Esse “gostar” dá lugar ao “importar”, a importância dá lugar a dependência, que dá lugar a saudade, que leva a paixão velada, ao primeiro beijo, à vontade de ficar junto, às pequenas declarações de um recente e adiantado amor, e por fim, numa coisa que só pode ser comparada à cartões de dia dos namorados e potes de margarina. Essa é exatamente a parte que eu daria um “STOP” na minha vida. Na parte que eu estivesse rindo como num pote de margarina. Mas a vida insiste em continuar, e descobrimos pessoas novas dentro da pessoa que amamos. Ela também descobre que seu cavaleiro andante nada mais é que um mortal, que o cavalo branco é uma bicicletinha, que a armadura reluzente é uma jaqueta de couro surrada com mais de 40 anos. As conversas apaixonadas continuarão, com certeza, mas agora será mais “realista”. Saberemos das limitações do outro, e tentaremos não irritar o parceiro. Afinal, nosso disfarçe caiu.

E toda a descoberta depois disso será boa ou ruim dependendo do que você quer ver. Se quiser continuar sonhando com um cavaleiro, pode perder a chance da sua vida. Se voce espera uma mulher que te satisfaça no quesito que a mídia impõe a voce, está se decepcionando, e ainda mais, está perdendo seu amor. É como uma pedra de toque.

Sim, uma pedra de toque. É exatamente que o parceiro ideal é para nós. Aquele objeto que vai realizar todos os nossos sonhos e desejos. Mas temos que ter cuidado. No caminho para achar a nossa pedra, podemos jogá-la fora, aí outra pessoa acha, e pronto, lá se vai sua chance…

Eu mesmo nem sei se já achei minha pedra de toque ou não. Tenho minha paixão velada, quem não tem? Espero um dia que essa paixão seja minha pedra de toque. Que ela não me realize, mas sim que ela me ajude a realizar que vamos pretender juntos. Realização pessoal ao lado de uma pessoa é egoísmo.

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dentro de mim

Vou voltar para dentro de mim. Vou te encontrar na porta da minha casa, com seu vestido estampado ferrugem, rabiscando o chão de terra. Me beijará os lábios com ternura e dirá que eu demorei. Entrarei para tomar chá com meus amados irmãos, que contarão as memórias de todo o tempo que eu jogávamos futebol xingando uns aos outros, e todas as outras recordações tristes e felizes que passamos. Minha mãe virá com seus bolinhos de farinha de trigo quentinhos e me porá a mesa com um café feito por minha tia. Colocarei canela e verei você quieta, os olhos rindo, olhando para mim com toda a felicidade que lhe é possível. Me enconstarei no seu rosto para sentir seu calor, e vou ouvir dizer que estava com saudades.

Depois disso, verei meu pai entrando pela porta da sala, esperando para receber meu abraço, e o beijo de minha mãe. Levantarei de meu lugar, dando espaço para ele tomar o café comigo depois de tanto tempo. Seus dedos estranhos mexendo o café forte com pouco leite. Lhe apresentarei com educação, ele vai fazer toda a simpatia. Voce falará que eu me pareço com ele. Eu concordarei.

E vou ouvir os gritos de meus primos, fazendo arruaça ao entrar, para me receber com abraços e pancadas nas costas. Vou xingar e xingarei os cumprimentos mais exóticos. Todos se sentarão à mesa, minha mãe estará feliz por ver todos juntos. Vou disfarçar meu choro nos seus cabelos, fingindo que estou dançando uma música que está passando no rádio que está sempre ligado. Você vai me dizer que está tudo bem.

Vou desprender meu corpo do seu, olhando seus olhos claros. Vou beijar tua boca de novo, ouvindo meu pai falando de política e futebol, abrindo espaço para discussões acaloradas entre meus irmãos e meus primos.

Vou subir ao segundo andar, onde encontrarei o velho quarto dos fundos, onde passei tanto tempo. O sofá cama estará la, com seu estofado verde escuro, e um travesseiro ao lado. Vou pegar um cd meu, que não escuto há muito tempo, e me sentarei ao seu lado para ouvir as músicas. Olharei para você e saberei nesse momento, que tudo que eu passei, que eu vivi, todos os lugares que eu estive, todas as decepções amorosas que eu passei, todas as brigas que eu perdi, todos os amigos que se foram, tudo isso valeu a pena. Estou em casa. Dentro de mim.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Casa

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A casa foi montada cuidadosamente pelos dois. Nas paredes as fotos dos momentos felizes que tinham passado. No telhado, o futuro planejado tão meticulosamente. Na base, o amor construído com sangue, lágrimas e segredos que ambos esqueceram de contar por causa da correria em montar as paredes e o teto. Afinal, eles queriam a casa pronta.

Depois de certo tempo que é melhor ignorar, algo tornou-se ruim na base da casa. Os segredos começaram a fazer com que os momentos felizes na parede mofassem, e sempre fazia-se necessário uma nova mão de massa corrida, uma nova mão de tinta, e mais fotos felizes para ilustrar as paredes. Cada segredo contido na base aparecia em um canto da casa. Onde existia confiança, a sombra da dúvida apagou o rosto de ambos. Os sorrisos felizes em todas as confraternizações foram enegrecendo-se com a umidade do rancor passado. A casa, outrora tão colorida, caminhava para tornar-se um cinza grande e sem graça.

Eles ainda tentaram lutar, claro que tentaram. Por vezes os dois deitavam-se na cama conversando sobre o passado e porque a casa estava tão fria. Juravam amor um ao outro e iam dormir. Dentro de pouco tempo, as discussões passaram a não ter mais resultado, e a reconciliação tornara-se mais fria do que as próprias brigas. Ele queria reformar a casa desde o início. Ela pensava que mesmo assim os segredos continuariam a aparecer. Ele não pensava assim. Sabia que seu amor presente ia conseguir esconder os problemas da base. O que seria de um romance sem amor, que mantinha todas as peças juntas?

Mas o amor não segurou a nova reconstrução da casa. Pouco a pouco ele via os segredos, a dúvida, a tristeza, o passado, o rancor, o ódio, a amargura e a agonia em pontos estratégicos da sala de estar. A televisão perdera sua cor, e em todas os rostos apaixonados, ele via sua história. Pensava que sua vida seria como um filme, em que seria somente fechar a porta, e nada os alcançaria. Os créditos subiriam no final, quando o mocinho agarra a donzela em seus braços e a beija ternamente. Mas ele estava vivendo após os créditos, ele sabia. Talvez, na hora em que ele tinha que beijar a donzela, ele esqueceu a sua fala, e deixou-a lá, esperando o beijo. Ele também estava esperando o beijo. E todos os outros também.

Ela decidiu viver sua vida sem cores. As saídas solitárias tornaram-se rotina. Ela queria saber o que estava acontecendo àquele romance tão perfeito. Pensava no começo, quando a casa estava em sua construção, quando as paredes estavam sendo levantadas e o telhado já estava encomendado. Pensou que somente ele teria falhas na sua base, mas lembrou-se de seus segredos que também enterrara ali. Todos têm seus segredos, dizia ela na tentativa de se conformar. Mas as coisas não eram tão fáceis. Talvez eles tivessem segredos demais, talvez os segredos de ambos tivessem se encontrado na base e agora, juntos, eles estavam gritando por justiça.

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Ele agarrava-se à sua esperança de consertar tudo. Pensava que a culpa da casa estar ruindo era dele e somente dele, mas a sua consciencia dizia que havia mais culpados nessa história. Sua consciencia começou a cobrar respostas para tudo o que tinha acontecido no passado. Ele juntava as peças da sua vida na cabeça, fazia um retrospecto mental e sabia, sabia que, em algum momento, ele acharia alguma falha, uma peça faltando, que pertenceria a ela. Essa peça seria dela. A peça poderia até mesmo SER ela.

Ela já desconfiava dele em tudo. Estava convicta de que ele iria embora. Sabia que ele estava com outra casa em construção em algum ponto e não ficaria para reconstruir a sua casa com ela. Pensando assim, abriu ela seu coração de novo, mesmo que veladamente, e deixou outras emoções entrarem. Viu o mundo lá fora que reluzia com todas as cores que não havia mais em sua casa e sentiu falta de tudo. Sentiu falta de sua ousadia, de sua independência. Mas sabia que amava seu marido. Ficou então na janela olhando o gramado de outrem.

Ele lutava para ir contra a idéia de sua consciencia, que ele já apelidara de demônio pessoal. Não queria nem sequer saber que a culpa era dela. A culpa era sim, totalmente dele. Mas ele iria consertar tudo, pensava. As coisas voltarão a ser como antes. Ele trabalhara sozinho em tentar reconstruir sua casa, sem saber que sua esposa estava na janela, olhando o gramado de outrem.

Enfim, eles pensaram em desistir. Tudo o que tinham, as fotos felizes, o telhado futuro, nada disso servia mais para eles. Tão apodrecido que estava além de qualquer reforma. O mofo já saíra das paredes e atingira a cama onde dormiam, a mesa onde comiam as refeições, atingira a porta do coração de ambos, enferrujando a fechadura que selava o amor dos dois. As chaves não serviam mais. Eles não notaram.

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Ela partiu primeiro. Ele ainda ficou. O corpo dela partiu depois. Ele não entendeu. Até ver que ele mesmo já tinha partido daquele lugar. A mobília nem sequer importava para ele. Já estava longe, seguindo com o rosto tampado em meio a uma tempestade de areia, procurando outros lugares para se abrigar, enquanto não tinha forças para construir outra casa. Ela saíra em um cruzeiro antes de entrar na casa de outra pessoa. E a casa deles, tornou-se um monte de entulho. As fotos foram cuidadosamente queimadas para que ninguém soubesse quem estivera naquele lugar. O telhado foi removido com um golpe de vento chamado destino. Ambos estão lutando por aí. As vezes em cruzeiros ou em casas mofadas... A fechadura foi trocada algumas vezes. Mas uma coisa ficou, daquele tempo todo que viram seus sonhos envelhecendo: a certeza de que o que pode estragar qualquer contrução são os segredos escondidos na base. Pois todos os segredos existem para vir à tona.

Saiba guardar seus segredos em outro lugar.opening_box_secrets

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Espelho

Olhe para mim, eu sou o espelho. Reflito uma imagem crua de você mesma. Pode estar com a roupa que for, ou com a maquiagem que quiser, que eu te enxergo nua. Pule se desejar, ria se te fizer bem, mas saiba que muitas vezes, enquanto faz isso, eu te vejo chorando.

Saiba que, para mim, você é a pessoa mais importante que poderia aparecer. Eu sou a pessoa que você queria ser, eu sou a pessoa que você merecia ser. Eu sou você por dentro e por fora, sou o começo dos seus romances e o final de seus sonhos. Seus desplantes, sua raiva, sua dor, seus números de dança e seu boa noite final, sou eu quem recebo.

Olhe para mim. Me diga o que você vê. Depois me diga o que você quer ver. Depois coloque-se no meu lugar e diga a você mesma se isso que você está sentindo é real. Pergunte-se se você responderia com toda a felicidade do mundo que está bem, quando não está. Que não está apaixonado quando sabe que está. Que não está mentindo, que não está roubando, que não está sendo egoísta, que não brigou com aquela pessoa porque ele disse justamente o que você sabia que era verdade e mesmo assim quis esconder. Diga-me se realmente ama aquela pessoa, se pensa só em você mesma, se vai chegar ao fim do seu caminho serenamente, se vai conseguir o emprego, se fugiu do compromisso com aquela outra pessoa não porque não a ama, mas por medo. Sinta-se dentro das respostas que você daria a si mesmo. Saiba que seu coração pulsa dentro de você. E o meu coração também pulsa dentro de você. Porque eu, meu caro, ou minha cara, eu sou você, desnudo.

Depois de pensar se deve ou não responder com toda a austeridade que eu te respondo, pergunte-se se quer continuar nesse caminho. Pergunte-se se algo está errado na sua vida, e depois faça o mesmo percurso, mude de lado e responda. Pense em você daqui a uns anos, voltando a se olhar no espelho com esse mesmo olhar cético que mostra agora, e se perguntando a mesma coisa. O que dirá na resposta: “eu estou no mesmo lugar, e você continua falando as mesmas coisas”… ou então “eu mudei, eu tentei, e mudei, e segui outro caminho, algumas coisas deram errado, outras deram certo. Eu fui louco o suficiente para mudar tudo, e tudo deu certo no sentido que eu eu quis. eu tentei seguir um caminho que não estava trilhado, que não estava predestinado, perdi algumas pessoas, encontrei outras, mas fui eu mesmo quem conseguiu. Eu fui a porcaria de um louco e consegui alcançar meus objetivos”. Lembre-se, eu sou você. Por favor, não retorne até mim daqui a cinco anos do mesmo jeito que está chegando hoje.

Pense em todas as pessoas que já se refletiram no seu espelho. Pense na energia que você sentiu olhando cada um dos olhares que se cruzaram por meu intermédio. Pense nos amigos, nos certos e nos errados, nos amantes, nos inimigos velados, nos curiosos, nos parentes… e depois me diga quantas pessoas você espera continuar revendo no seu espelho depois de alguns anos. Pense bem nessa parte, porque ela é uma parte grande na definição do seu caminho. Eu conheço todas as pessoas que passaram olhando para mim, eu sou cada uma delas em suas determinadas épocas, mas eu sou você agora. Poderia eu, sim, dizer a você quem é a pessoa certa, e quem é a pessoa errada, mas isso estragaria toda a surpresa, boa ou ruim, que você teria no caminho.

Depois disso, sinta-se a vontade para fazer o que quiser. Se quiser jogar o copo de bebida em mim, jogue. Quebre-me e depois recomponha-me, mas eu serei ainda você mesma. Ria, ou chore, maquie-me com seu sorriso angelical, ou mande-me à merda. Mas reaja. Faça tudo no mundo parecer com sua imagem no espelho. Faça o mundo ser sua imagem no espelho. Enxergue a sua verdade no rosto de todos no seu caminho, saiba que seus inimigos te amam mais que seus amigos temporários, que seus parentes são chatos sim, porque família perfeita só existe em propaganda de margarina. Saiba que as palavras vão valer menos do que eu. E eu sempre serei você, de alma nua, no espelho.

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O coração de pedra e o homem com o martelo

 

 

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Acho que todo coração é uma pedra. Marcamos nela o nome de todas as pessoas que nos são importantes, queimamos as coisas que nos fazem sofrer. No final, todos nós temos corações de pedra. Seja um amigo querendo entender uma situação, uma pessoa apaixonada que não é correspondida, uma pessoa que tem medo da solidão, marcamos nossos corações com ferro e fogo. Com mais fogo que ferro. Sempre.

Reparou como é difícil para lembrar coisas boas que vivemos, e só lembramos das coisas ruins? Tenho certeza que as pessoas que estão com alguma coisa contra mim agora pensam nas coisas que eu fiz que as prejudicou, mas não pensam em tudo o que eu fiz para ajudar, quando recebia ligações no meio da noite, ou senão como confidente. Mas é assim mesmo. Não posso falar que perdoo 100% meus amigos, sempre fica aquele pedaço marcado a fogo.

Outra coisa interessante, é a repetição, a frequencia com que marcamos uma coisa. Vivemos uma decepção no passado, com uma pessoa que amamos, e depois de um tempo parece que tudo ficou esquecido, porque sofremos a mesma coisa, com o pretendente diferente. E depois que levamos essa ferida, lembramos todos os atos que os outros antes dele fizeram por baixo da cicatriz nova. Parece até cena de cinema, lembramos até das feições que fizemos, das palavras que falamos, dos cheiros, das músicas… e ali estamos, em frente a nossa nova velha decepção, uma releitura de nossa tragicomédia com outros carrascos.

Quando achamos que nosso coração ficou pequeno pro tanto de coisa que já passamos, parece que essa “pedra” aumenta de tamanho, ela se expande só para vermos outras feridas que nem lembrávamos, ou para ter um espaço fresco para outra pessoa marcar a ferro. Ou a fogo. Com mais fogo que ferro.

Depois disso tudo, ainda temos nosso algoz perfeito, que é nossa consciencia. Ela nos lembra, nos massacra com cada ato errado que cometemos no passado, que levou nosso amor embora, que nos deixou deprimido por semanas, que nos fez ficar furiosos. Sabe, acho que a depressão é resultado do trabalho perfeito entre a nossa consciencia e nosso coração de pedra. Ele bate com o martelo em nosso coração, para vê-lo ressonando em nosso cérebro todos as cenas que lutamos tanto para esquecer. E quando começamos a nos recuperar, ele bate de novo, só muda o ritmo de toque. Outras memórias são acionadas, outras depressões vêm e pronto, lá estamos nós prostrados, sofrendo de novo.

Fuja de repetições. Saiba que o dia precisa nascer do mesmo jeito, seguindo o mesmo caminho, mas voce não é um sol, potente, reluzente… voce é voce, uma pessoa que busca, assim como todas as outras que marcaram seu coração com ferro e fogo, ser feliz. Então seja feliz! Corra atrás do que voce quer! Veja se vai dar certo. Se não der, deixe pra trás. O mundo não vai acabar agora e nem amanhã. Aceite as batidas da consciencia no seu coraçao de pedra, sofra um pouco, mas saiba que, tanto o seu coração de pedra quanto sua consciencia, são complementos da sua alma. Não pense que sua vida acabará por causa disso. Talvez a consciencia só faça isso porque ela mesma está cansada de ver o coração sendo marcado a fogo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Ser”

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Seria eu um mentiroso se dissesse que tenho motivos ficar triste todos os dias. Todas as minhas cartas são jogadas aleatóriamente, com um destino que os deuses não me disseram. Posso acordar triste e acabar louco de felicidade no final da noite, ou posso acordar completamente feliz e terminar meu dia derrotado.

“Sou” é uma palavra forte. Seria eu mentiroso… foi assim que eu começei o meu texto. “Seria eu” tanta coisa, teria tantos adjetivos quanto substantivos, acompanhados de todos os pronomes que, no final, remeteriam a mim, “sou”.

“seja eu o mais nobre dos amigos, seja eu o mais doce inimigo, seja eu o pior amante ou o melhor acompanhante”… gosto de brincar com todas as coisas que eu posso “Ser”. Tire de mim tudo o que eu sou e jogue-me ao vento, veja-me flutuar indiferente por sobre os mares de problemas que outras pessoas criaram, e veja-me sendo, no final, algo completamente diferente do que voce imaginou no princípio.

Deixo você ser meu sol, se quiser. Deixo voce me trazer a lua se desejar. Mas só ficar perto já bastaria para muita coisa. Afinal, o sol me obrigaria a usar protetor contra você, e o que eu vou fazer com a lua? Bastaria que você simplesmente derramasse em meu copo toda a felicidade de saber que eu estou vivo, e amanhã eu serei o mais feliz arlequim do picadeiro.

Deveria eu “ser” o que vai partir em breve? As palavras pronunciadas podem marcar a alma de tal forma que nunca serão esquecidas. Se um de nós vai conseguir fazer isso um com o outro, eu não sei. Espero que não. O pior de tudo são as coisas que ficam atrás dos meus olhos. Elas ficam num muro escrito com fogo, eu sempre as leio. É uma coisa involuntária. Queria poder “ser” a pessoa que respondesse na mesma altura dos meus algozes. Mas fico calado, tentando “ser” indiferente.

Porque isso tudo? Porque as palavras completam em mim o sentido de “ser”. Elas prendem meus pés na lama de tudo o que os outros pensam e falam. Fico sem ação vendo todos os meus inimigos indo embora, deixando-me nesse poço sem fundo. Mas não tem problema. Eu sempre consigo sair daqui. Já enganei a morte umas vezes, posso enganar mais algumas.

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domingo, 9 de maio de 2010

IDA E VOLTA OUTRA VEZ

 

Repetition

Tudo na vida é repetição. Fazemos as mesmas coisas que fazíamos no passado, encontramos amigos que se parecem com outros que já tivemos e o tempo levou embora, temos nossos relacionamentos com pessoas com o mesmo temperamento, fazemos tudo do mesmo jeito embora pensamos estar fazendo diferente, e para atingir o mesmo resultado.

Amar é repetição. É mais que não querer viver sozinho. É ter alguém para apoiar sua loucura ou simplesmente te abraçar na noite que voce desabar. Todos desabam, e mente quem disse que nunca desabou.

Embora tudo na vida possa se repetir, os personagens sempre mudam. Uma pessoa que, na parte anterior da sua vida não tinha tanta importancia torna-se um dos personagens principais no teatro da sua vida, e você pode contar com ela para não repetir os atos passados que levaram a uma desilusão, uma tristeza ou um rompimento prematuro. Essas pessoas novas que encontramos possuem em todas as características traços de alguém que conhecemos, que pensamos ter visto em outra vida, mas não nos tocamos que essa pessoa tem as características dominantes daquela que acabou de sair da sua vida. Essa falha de julgamento de nossa parte faz com que tentemos repetir atos do passado, os mesmos atos que cometemos no relacionamento anterior, pensando que, como esse relacionamento é mais recente, as coisas podem ser diferentes.

Mas não é. Os erros se repetem numa sequência artimética. A pessoa também pode estar começando a mostrar os erros que levou ao seu término também, não pense você que é único nessa peça de teatro. Mentiras pequenas com grandes consequências, brigas que parecem “deja vu”, noites sem dormir, coração dolorido, lágrimas escondidas, tudo isso, todo o pacote de “Apaixonado para sempre” é apresentado a nós na nossa repetição dos atos.

E porque repetimos esses atos? Eu tentei descobrir, juro que tentei. De física a metafísica, não achei lá muita coisa, só relatos de pessoas que acabaram, na sua busca pela resposta, repetindo os mesmos atos do passado. Isso é inato a todos.

Será que, já que a vida é repetição, o amor também o é? Será que amar é repetir sempre os mesmos atos com pessoas diferentes, esperando que aquela pessoa que está recebendo sua ação é aquela que vai te entender, que vai superar seus erros, que vai ter aquela palavra que vai quebrar a repetição da sua vida? Eu penso que, se eu continuar pensando assim, eu vou estar apoiando meus erros nos meus relacionamentos anteriores, e admitindo que não sou perfeito. Mas isso não quer dizer que a pessoa tenha a obrigação de ter essa tal “palavra” que vai mudar minha repetição. Se eu tiver menos sorte, é capaz dela ir-se embora simplesmente para que eu recomeçe minha caçada a outra pessoa que tem a palavra mágica.

Olhando para trás, eu já tentei achar o exato momento que minha vida começou a ruir. Não consegui achar, talvez porque eu sou orgulhoso um tanto demais para admitir, ou porque não tenha uma pessoa que pare o filme no exato momento e diga:”Viu, voce errou bem aqui”… E ainda tem aquele pequeno ponto, que eu chamo de “Salve Rainha”. Talvez não tenha sido um erro meu. Já pensou nisso? Se sua vida é uma repetição, talvez o erro não seja seu, mas sim da outra pessoa que não entende que voce está repetindo a sua vida. Talvez a pessoa não estivesse preparada para o que voce ia dizer, para o que voce ia fazer, para nada do que voce esteja pensando. Talvez ela ame menos, ou talvez ela ame diferente. Talvez ela estivesse esperando o erro da pessoa anterior da vida dele.

Engrenagens diferentes uma hora param de funcionar, e as palavras são engrenagens que, junto com os atos, mantém tudo o mais funcionando organizadamente. Quando estamos acostumados com a nossa vida, com os nossos atos, com os atos passados que levaram a um rompimento, isso pode fazer com que estejamos sempre esperando essa palavra mágica que conserte tudo, que traga um conforto para nós. Quando não achamos esse conforto, começamos a temer o pior. Que a pessoa não te ama, que está indo embora tal qual o relacionamento anterior, e isso é terrível. Aí mandamos a razão praquele lugar e começamos a agir, mesmo que instintivamente, do mesmo jeito que agíamos no passado. Até que a pessoa, por falta da palavra mágica, vai embora tal qual o relacionamento anterior.

Acho que nosso Criador deveria ter deixado-nos um manual. Nossa vida está sempre travada num “replay” contínuo, estamos sempre no mesmo lugar, só que mais velhos e mais machucados. Os personagens mudam a nossa volta, e estamos nesse ritmo: ida e volta outra vez. Repetiçao.

repetition-patterns

sábado, 8 de maio de 2010

O 1º ato. Para quem se apaixonou

sensual

De repente, apaixonei-me. Esse sentimento entrou na minha casa pela porta da cozinha, pegou um lanche rápido na mesa de café e foi tomar seu lugar na sala de estar. Quando cheguei, encontrei-a nua, no meu sofá de dois lugares. Seus olhos diziam-me, sem dizer uma palavra, que estava sentindo minha falta. Fazia muito tempo que não tinha a paixão ao meu lado. Ela nem sequer esperou que eu colocasse meus livros na mesa, atirou-se em minha direçao, com beijos longos e suspiros em meu ouvido, fazendo meu mundo cair pouco a pouco. Fui sentindo o mundo reconstruido-se a cada beijo, a cada carícia. Senti-me dentro de uma garrafa de absinto, e ela era a fada. Cada ato apaixonado preparava o bohemian, intenso como ele só.

Larguei-me no sofá, com a paixão em cima de mim, suas pernas enroladas em meu quadril. Ela conseguia arrancar de mim minha calma, fazia-me brigar com minha paz interior, que gritava por um momento de razão naquilo tudo. Mas minha selvageria repentina, misturado com toda aquela languidez momentânea fazia tocar em minha cabeça as músicas mais eróticas possíveis. Toda a razão foi expulsa de meu cérebro, dando lugar a um sentimento mixado de desespero e fome, uma fome além do normal.

Tentei desvencilhar-me de seus braços ao meu redor, somente para reparar que eu estava, na verdade, arrancando minha camisa. Todos os meus sentidos respondiam ao comando dela, a paixão. Quis que ela fosse embora, quis que ela ficasse quieta, quis que ela terminasse logo com aquilo que ela viera fazer. Senti que eu deveria ter feito tanta coisa, que eu simplesmente a abraçei para mostrar o que eu queria realmente.

Cada ato da paixão pulsante foi como um filme que não via há muito tempo. Senti um mundo sendo criado pouco a pouco, cada personagem foi aparecendo e desaparecendo numa rapidez incrível. Era como se minha casa estivesse numa corrida a mais de 100 km/h. Em um determinado momento, a paixão pareceu-me muito com a loucura, que também já tinha vindo antes me fazer companhia. Entreguei a paixão tudo o que eu tinha, ela gemia baixo no meu ouvido o quanto tinha sentido minha falta, e eu ouvia dentro de mim a mesma palavra:”mentira”. Todas as vítimas da paixão ouviam isso. Eu tinha que tentar fazer diferente.

Desvencilhei-me do seu corpo em cima do meu, e levantei num ímpeto de sair e nunca mais voltar. Ela me fitava no sofá, minha camisa amassada no chão. Ela não iria fazer nada que me impedisse de sair, porque ela sabia que eu não conseguiria. Olhei para a porta, calculei todos os 6 passos do sofá até a saída daquele estranho acontecimento, mas estaquei. Todo a minha vontade de sair foi arremessado pela janela quando olhei para ela ali, esperando.

Levantei-a e em meus braços, a carreguei para meu quarto. Enquanto a carregava, meu coração repetia a mesma cena, carregando-a para dentro dele, num lugar vazio, limpo e arrumado. Pensei que depois seria mais difícil sair dali, mas não quis saber de mais nada. A paixão era minha depois de muito tempo.

Tudo o que se seguiu no meu quarto foi digno de um conto de Sade. Estava dentro da paixão e a paixão possuia todas as minhas forças. Corpos que tornavam-se um, uma quimera pulsante, viva, que suava e tremia a cada respiração, que se entregava e recebia a cada ato. Senti-me o mais forte dos deuses e o mais fraco dos homens. A paixão sussurrava ao meu ouvido que não me deixaria ir embora de novo, eu suspirava dizendo que ela iria embora assim que terminassemos aquele jogo. Ela ria, aumentava seu ritmo.

No clímax, nós éramos dois loucos. Os últimos atos tornaram a chegada a Shangri-la mais prazerosa. Enchi-me de paixão e ela encheu-se de mim. Cada um dando o que podia, e recebendo o que queria. Ela deitou-se ao meu lado, o corpo tremulo, lábios entreabertos, o corpo formava uma silhueta na minha cama, uma imagem divina. Envolvi-a em meus braços, ela acolheu o meu carinho. Afaguei seus cabelos e beijei sua orelha. Ela disse que queria isso de novo.

Logo depois, como se o tempo parasse de existir, ficamos ali, juntos. Adormecemos, e não sei se fomos para o mesmo lugar nos nossos sonhos. Quando acordei, ainda sentia todo o perfume do corpo dela. A camisa estava amassada no chão da sala. A paixão se fora. Senti o calor dela enquanto passava pelo corredor, mas não a encontrei. Ela foi-se do mesmo jeito que veio, de surpresa. Deixou-me aturdido demais para pensar qualquer outra coisa, mas também não pediu muito, a não ser meu corpo e alma. Senti-a dentro de mim, no meu coração as fotos de seu rosto tomaram lugar em todas as molduras. Sua voz existia em todas as músicas, seu cheiro em todos os perfumes. E eu existia somente em seu caderninho preto. Enquanto ela marcava cuidadosamente meu nome, eu marcava seu rosto de novo. Mais uma vez, apaixonei-me.

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

O circo das almas perdidas

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Vou entrar para o circo das almas perdidas

Onde todos vão quando enlouquecem

Serei a atraçao principal

Para aqueles que me conhecem

Estarei no picadeiro

Antes que a banda começe

Com seu arranjo desorganizado de cordas

Que a todos os loucos estremece

Os espelhos arrumados ao meu lado

Imagens de mim mesmo se repetem

Pensarão eles que estão loucos

Vendo mais de um daquele se arremete

Impetuosamente com sua cartola e bengala

Num terno velho e puído com uma flor silvestre

No bolso ao lado da gravata vermelha

Que peguei emprestado sem que soubessem

Destilarei meu ácido em todos os valentes

Incautos com suas provocações inocentes

Que recuarão, com palavras indecentes

Ruídos para mim incoerentes

Misturados com os aplausos crescentes

De todos os que, conforme dito anteriomente

Me conhecem pessoalmente.

Quando rufarem os tambores

E todos prenderem sua respiração

Estarei com uma arma carregada

Apontada para o coração

Daquele que promoveu toda carreira desgraçada

E me deixou ali em completa escuridão

Até que as luzes se acenderam

E eu notei então

Que tudo o que eu passei até ali

Fôra simples ilusão.

Toda a simples ilusão da felicidade

Que enlouquece os homens sem reparar idade

dos homens nos campos

Até aqueles das cidades

Mais longínquas do mapa

Que não vemos nem por curiosidade

Todos eles, sem distinção

Acabam em simples infelicidade.

A platéia ainda espera a arma disparar

Coitados, será que os deixarei esperar?

Devo puxar o gatilho e tudo isso terminar

Dando aos meus conhecidos algo mais para olhar

Além do homem no picadeiro que ri sem parar?

Meu espetáculo não terminou, querida

Se estou com a arma na mão, é porque ainda

Haja toda a esperança enlouquecida

Que sai até da alma mais ferida

E transforma em jardim lugares sem vida.

Estou no circo das almas perdidas, sim, e repito

Que estou louco, mas não estou esquecido

De todos os raios de sol que existem além desse céu esquisito

Que curaria até a alma do mais aflito

Que ousasse lhe pedir abrigo.

No final, deixe rufar os tambores

São a trilha sonora da minha fuga

Minha corrida totalmente desvairada

Para fora das raias da culpa

Enquanto eu estiver correndo

Ouvirei a multidão em sua súplica

Do show esperado que não acontecerá nunca.20080411155637__mg_6964

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para quando a morte chegar

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Ele sentia que a morte ia chegar

Mesmo ao respirar

Sabia que um momento ela poderia parar

Assim que o inverno chegar

O vento frio, uma carta trará

Desesperado ele a lerá

Sabendo que sua morte ia chegar

Ao de súbito percorrer

Com os olhos o que deixaria ao morrer

Não pode deixar de estremecer

Pois nem mais o chá conseguiria beber

Sem pensar no dia que iria morrer

Seu velho hábito de sorrir

Ao pensar nas coisas porvir

Desaparecera com um leve ruir

De uma porta a se abrir

Ele lá parado

Por vezes apavorado

De ver o vulto ali, estacado

De repente, ao seu lado

Com o olho esbugalhado

Completamente extasiado

Olhando para o rosto suado

Daquele que estava amendrontado

Mortificado

Naquela poltrona sentado

O jornal ao seu colo pousado

O gato deitado no sofá fugira assustado

Talvez ficara enauseado

Com o cheiro acre excretado

Por aquele corpo, outrora rebentado

Não sabia se de tiro fora executado

O corpo escondia-se abrigado

Num capote todo rasgado

E outrora costurado

Talvez o carrasco, coitado

Tivesse usado em seu ultimo condenado...

Mas o que era aquilo?

Que afligia o homem, antes tão tranqüilo?

Que conseguia falar do universo desconhecido

Como se fosse um livro esquecido

Por gerações procurava com afinco

Maneiras de burlar aquele segundo infinito.

Sim, a morte

Dessa vez o homem não teria tanta sorte

Se por ventura houvesse um motivo torpe

Uma troca, uma barganha simples, um dote

Que não a fizesse ser por agora sua consorte

Ao adentrar os muros da triste morte

Morte

Quando vier, estarei preparado para ti, morte!

Com armas na mão, segurando com pulso forte

Apertarei o gatilho, meu chumbo contra seu capote

Venha agora, não deixarei restar de ti nem um filhote!

Depois de ti, o mundo será minha estrela do norte!

Assim ficou o homem a divagar

Enquanto sua alma ela veio buscar

O chá na mão a esfriar

O jornal no colo a repousar

Seus olhos, para o nada olhar

Enquanto o gato fugia a miar

E o homem, coitado, ainda a se preparar

Para quando a morte chegar...

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Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
  • Rainbow
  • Yngwie Malmsteen