sábado, 5 de junho de 2010

Um texto sem nome.

Agora chega de falar de amor. Falemos de uma coisa que atinge a todo mundo, mesmo que eles mesmos nunca admitam.

Todos somos loucos, disse um amigo meu outro dia. Acho que ele tem razão. Veja bem: nascemos completamente indefesos, sem nenhum manual de sobrevivência, passamos a crescer pouco a pouco, e justamente na fase que mais precisamos de carinho nós vemos nossos pais brigando, discutindo, nossos irmãos brigando pelo carrinho de corrida, a professora na escola continua todo o nosso processo de castração, já iniciado em nossos lares, nos ensinando o poder esmagador de um “NÃO” bem na nossa cara. Choramos mais e somos menos atendidos. Começam as cobranças para virarmos adultos. Todo mundo começa a falar: “nossa, voce já tá um homenzinho”, e essas palavras ficam encrustadas em nosso coração, começamos a achar que deve ser o máximo crescer para irmos onde quisermos, fazermos as coisas sem dar satisfações a ninguém. Pensamos tanto nisso que perdemos uma parte da nossa infância. Todo o sistema de repressão começa a destruir todas as bases da nossa felicidade. No lugar de brincadeiras, um sistema militar de ensino. No lugar de carinho, o tapa dos pais, dos irmãos, dos amigos da escola e até mesmo da professora. E fora isso começam os tapas psicológicos, nos chamando de “palhaços”, “idiotas”, “imbecis” para cada ato nosso que se mostra diferente da maioria.

 

Aí, exatamente nessa parte, quando temos cerca de 2 a 4 anos, é que nosso Olimpo desvanece na nossa frente. Os professores chamam nossos pais para conversar, dizer que somos diferentes, que deveriam dar uma atenção especial. Ouvimos palavras que não entendemos, como “hiperativos”, “super dotados”, “déficit de atenção”, “disperso”… A única palavra que começamos a relacionar isso é aquela que nossos Lost_Childhood_by_natsfrpais mesmos nos ensinaram: BURROS.

Tornamo-nos burros porque não queremos viver conforme as outras pessoas nesse mundo. Deixamos nossas aspirações de lado, começamos a dar duro na escola, que mais parece uma masmorra. Nas aulas de história começamos a nos identificar com heróis do passado, que foram mortos, ou pela forca, ou queimados, ou fuzilados, ou torturados. Sabemos que todos eles foram crianças como nós, “hiperativas”, “especiais”, “super dotadas”, BURRAS.

O jardim de infância passou faz muito tempo, e ele não nos deixou levar nada. As lembranças não são melhores. O que ele tomou de nós, isso sim temos saudade: nossa livre inocência.

Somente quando estamos bem adiantados nisso tudo, nessa corrida maluca que chamamos de vida, é que começamos a ver o que poderíamos ter feito de diferente no passado. Mas, para que isso importa? Será que se eu não tivesse saído de bicicleta naquele dia, eu teria me quebrado menos? Será que meu pai teria menos rancor se eu não tivesse me mostrado um ator nato em todas as situações que ele tinha que comparecer à escola para ouvir reclamações a meu respeito? Minha mãe me amaria mais se eu tivesse chorado menos e sido mais “adulto” aos 5 anos? O passado é o nosso pior inimigo. Ele nos faz chorar de tristeza por causa de acontecimentos felizes de anos atrás, nos faz rir de situações que morríamos de ódio há algumas décadas. Ou seja, ele trata de inverter os sentimentos depois de um tempo.

Aí, depois que nos tornamos adolescentes, começamos a pensar em mudar tudo, mudar todo o sistema que vivemos, os ideais de igualdade afloram aqui e ali, mas de nada serve. Conhecemos uma pessoa que amamos loucamente, os ideais são enterrados pelo amor vitimado, o mesmo que vimos nossos pais sofrendo quando éramos pequenos. Não nos lembramos, nesse momento, das brigas que eles tinham. Se lembrássemos disso, acho que nunca pensaríamos em ter alguém. Mas esquecemos rápido.

O que acontece depois é que nossos pais começam a sair dos primeiros lugares da montanha-russa que estamos, para nos dar lugar privilegiado de todo o desastre que vai se seguir. Recebemos na cara todo o ar frio da realidade, cortamos nossos rostos com as decepções que vem em ritmo frenético, somos chutados para fora do banco quando o carrinho atinge um quebra molas. Tudo isso ao som de cantigas infantis, letras apaixonadas e sons indistintos das pessoas que pedem para que sejamos corajosos, que continuemos seguindo até o fim, para sermos homens, para não sermos como nossos pais, que fizeram as coisas erradas. Num loop repentino, nosso parceiro é arrancado do nosso lado. Nossa corrida começa a ficar mais escura, e pensamos o tempo todo em voltar a ser criança, para voltar à época que ficávamos embaixo do cobertor, esperando o dia amanhecer e ver que tudo era um sonho. No final, somos só nós, com nossas ilusões, nossos traumas, nossos adjetivos e predicados, num carrinho de montanha-russa velho.

Já conseguiu ver do que se trata o texto? Consegue ver o que é “isso”, que atinge a todos? Bem vindo a sua vida.

 t_rando05

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