domingo, 29 de outubro de 2017

"Eu lamento". "Eu me arrependo".

Muito se fala sobre o arrependimento e lamentação. Mas vamos ver a diferença entre cada uma dessas palavras.

Aviso que, quanto ao "arrependimento", analisarei aqui o significado além do termo teológico, visto que na bíblia, é um dos termos que mais se usa.

Arrependimento vem do grego μετάνοια  ("metanoia"), e significa, no seu sentido mais profundo, uma evolução em seu caráter, que o faz sentir pesar por alguma atitude ou pensamento passado. Enfim, uma mudança, geralmente drástica em seu caráter, devido a algum acontecimento que, comparado às suas antigas ideias e atitudes, o fez evoluir em algum sentido.

Logo, o arrependimento possui um significado maior do que pensamos. Mas há outro sentimento que implica sentir pesar. É o lamentar.

O lamento é uma queixa, uma tristeza que não depende de um ato ou fato que você praticou, mas que causou dano a alguém. Lamentar não significa uma evolução ou um crescimento, mas sim uma capacidade empática que demonstramos (ou que tentamos demonstrar) para alguma situação que lesou outra pessoa.

Há coisas que eu lamento que tenham acontecido. Tanto como sujeito ativo ou passivo da ação, alguém foi lesionado, danificado, seja eu ou outra pessoa qualquer. Mas isso não implica mais do que o meu mero sentimento.

Porque não houve um crescimento nesse sentido. Houve só uma atitude impensada ou imprudente, tomada em momento de forte emoção, que danificou os sentimentos de outra pessoa. Lamentar é mais inerente e corriqueiro do que o simples fato de se arrepender, e essa é a verdadeira essência das coisas. A vida continua de qualquer forma, e lamentando ou não, não há uma aprendizado nisso se eu não quiser. E também, porque, se não há aprendizado, não há evolução, e tão logo, não há arrependimento.

Mas o arrependimento é algo que me faz seguir em frente por uma outra perspectiva, pois sei que, se tais situações se repetirem, e eu invocar o padrão que me levou a ter tal sentimento, eu agirei de forma diferente, evoluída, como o próprio sentido da palavra mostra claramente.

O lamento é objetivo. Eu posso lamentar a morte de um ente querido de um amigo meu, porque ele perdeu algo de grande valor, mas eu não posso me arrepender por tal ato porque não fui quem o praticou, e não há evolução nesse caso. Eu lamento o resultado de alguma ação. As pessoas lamentam o tempo todo. Isso é normal. O sentimento de tristeza. O que eu posso fazer é mostrar empatia e ajudar no que eu puder, para que a pessoa possa se recuperar em tempo. Como falei antes, não há crescimento.

O arrependimento é mais subjetivo. Ele vem de dentro de mim, me faz querer sentir emoções diferentes das que eu senti no momento X, e que fizeram com que eu me arrependesse. Mostra que, se tal acontecimento se repetir, não terei motivos para me arrepender porque eu evoluí, eu aprendi com meus erros e sofrimentos passados, e que posso (e devo) agir diferente, justamente para que eu não coloque mais um sentimento na pesada pilha de arrependimentos que tenho.

Mas o que eu não posso fazer é me arrepender por erros de outrem. Eu não vou crescer, evoluir, simplesmente me arrependendo de ações praticadas por outra pessoa. Primeiro porque isso significa assumir uma culpa que não é minha, e segundo, isso é "lamentar". A outra pessoa vai continuar seguindo sua vida, e eu ficarei amordaçado em lamentações próprias, porque eu, que fui danificado, não obtive crescimento algum. Isso é ter uma atitude passiva e covarde.

Por outro lado, eu posso sim me arrepender por não ter tomado tal atitude lamentável, e aí sim há um crescimento inerente à minha pessoa, à minha alma. Porque evitar repetições de acontecimentos lamentáveis na minha vida implica que estou colocando meu arrependimento em ação, e que cresci a ponto de não mais me permitir ser danificado.

E, se uma pessoa "lamenta" por ações dela, mas não se "arrepende", não cabe a mim, a você, ou a qualquer um, carregar um fardo inútil, sendo que a pessoa sequer se importa. Porque lamentação é chorar o leite derramado, arrependimento é evitar derramar o leite em outra ocasião, e essas duas coisas juntas constroem algo que pouca gente fala, mas que ainda existe: a honra, que significa respeito, mérito. E não existe nada melhor para honrar do que a minha própria consciência, meu próprio ser. Tendo respeito próprio, amor próprio, mérito próprio, eu saberei que minha honra está no lugar certo. Terei menos arrependimentos, não sei se terei menos lamentos, mas com certeza, mostrará que eu estou evoluindo, de certa forma.



sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O que estou pensando?

Os dias passam como deveriam ser. As horas continuam a ter 60 minutos. Os minutos, 60 segundos. E assim se constrói o dia. De tempo que dedicamos à coisas que achamos ser importante, ou simplesmente num estado ocioso, como aquele "break" que damos às nossas mentes, depois de um período de trabalho árduo, ou então por pura preguiça.

Mas conviver com uma centena de pensamentos por segundo não é algo fácil. Na verdade, uma das coisas mais complicadas que existe para mim é responder a uma simples pergunta: "O que você está pensando?"

Eu poderia estar com a minha mente em 3.500 lugares diferentes, imaginando 10.000 cenários improváveis, fazendo 30.000 estimativas, analisando 500.000 possibilidades de como as coisas poderiam estar acontecendo em outras realidades que não a nossa. Ou posso estar pensando em como uma música de uma banda parece se fundir a um acontecimento da minha vida, e minha mente começa a fazer ligações entre músicas e cheiros, locais, clima, acontecimento, etc. Ou posso, simplesmente, não estar pensando em nada.

Veja bem, não sou diferente de qualquer outra pessoa neste mundo que carrega o fardo da hiperatividade. Me manter calmo e seguro quando começo a pensar em alguma coisa é uma tarefa árdua, mas a experiência me ensinou bem como manter um padrão (pelo menos na maioria dos casos).

Para ilustrar o caso:

Eu acordo de manhã. Minha mente está parada na entrada de um grande salão mal iluminado, mas não escuro. Dentro deste salão, estão milhares e milhares de cordas. Elas possuem uma tarja de identificação em uma ponta, sinos presos em seu meio, e lá em cima, no começo dessa corda, está uma lâmpada.Cada corda dessa é uma memória adquirida ao longo de meus dias de vida.

E conforme vou iniciando meu dia, minha mente vai entrando nesse grande salão, e começo a encostar em algumas das cordas que estão mais próximas à porta. É o cheiro do café, o trabalho matutino de começar "reiniciar" meu cérebro para o dia de hoje, os compromissos que terei durante o dia. Até aí, tudo bem, porque são cordas que eu realmente preciso tocar.

Mas o dia se expande, não da mesma forma como algumas pessoas pensam, mas de um jeito que beira ao masoquismo.

Porque há cordas que eu não quero tocar, mas esbarro nelas por acidente, e o sino toca, e a lâmpada se acende, e então, eu consigo ler a tarja de identificação. É uma memória. Se ela é boa ou ruim, só saberei depois que a luz se acender. E quando essa luz se acende, e eu consigo ler a identificação, um projetor colocado em uma das paredes deste grande salão repassa o acontecimento que me fez adquirir aquela memória. É como se eu revivesse o acontecimento por um instante. Parecem horas dentro da minha cabeça, mas no mundo real, não dura mais do que 1 segundo.

Se, após visualizar o acontecimento, eu não me conseguir me controlar, posso tocar em outra corda, e acontecimentos próximos àquele vão começar a ser reproduzidos no projetor. E aí está formado o caos mental, as memórias, que despertam emoções que eu não queria lembrar, ou não estou preparado para resolver naquele momento, pois preciso de todas as minhas faculdades intactas para poder superar o dia. Então, eu vejo que, à minha frente, e ao meu lado, existem mais milhares de cordas, bem próximas umas das outras. Percebo que devo começar a me mover com cuidado.

E, enquanto algumas pessoas estão saindo para seus trabalhos, faculdade, baladas, eu passo o dia dentro desse grande salão, andando cuidadosamente, para não tocar em mais nenhuma corda, que pode me remeter a outras memórias indesejáveis. É uma verdadeira cama de gato, um jogo de gato e rato que jogo comigo mesmo, a todo instante.

Mas, e aí, o que eu estou pensando? Posso dar uma resposta fútil e superficial, para manter todos calmos e tranquilos, e dar a sensação que eu sou como um deles. Mas aqui dentro, aqui dentro da minha cabeça, eu respiro com cautela, eu ando devagar, com movimentos calculados, me esgueirando por entre acontecimentos que eu deveria esquecer.

No final do dia, quando todas as pessoas só querem deitar a cabeça no travesseiro e dormir, eu vejo que consegui atravessar o grande salão. Abro a porta, saio daquele lugar, durmo, e no outro dia, estou novamente à entrada daquele grande auditório, repleto de cordas, sinos, lâmpadas e o projetor. Só há uma diferença: há novas cordas naquele lugar. Cordas que não precisam ser tocadas para ativar uma memória. São memórias recentes, que ficam martelando de novo, e de novo, como um filme em reprise. E aí, meu amigo, meu dia começa a andar extremamente mais devagar. Cada hora tem 10 anos. Cada minuto tem 3000 horas. Cada segundo tem 1000 minutos. E eu, entorpecido pela reprise daquela memória recente, acabo tropeçando em outras cordas, que trazem recordações que não quero lembrar, e as luzes que se acendem, os sinos que tocam, me deixam zonzo a ponto de eu querer perder a consciência. Mas sei que preciso chegar ao final do salão. Preciso terminar o meu dia.

Quando finalmente chego ao final do meu dia, e quando as pessoas, novamente, vão se deitar e dormir, eu alcanço a porta do salão, abro a porta, e saio. Mas os ecos permanecem. E a certeza de que essas memórias vão começar a repassar na minha mente começam a me torturar de antemão.

Mas, e ae, o que eu estou pensando?


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Às palavras.

Amo palavras. A conexão entre letras que formam sílabas, que se juntam formando uma palavra que exprimem um significado entre pessoas que se entendem. Isso me fascina sobremaneira.

Houve uma época em que eu era bem rápido no falar. Hoje eu ainda consigo ser sarcástico e irônico quando quero ser, e consigo fazer piadas com tudo.

Mas sei que palavras também ferem. E muito. "Lingua ferit, manus necat". A Língua fere, a mão mata. Mas a língua também tem sua dose de veneno, e não podendo matar um corpo físico, já que é tecnicamente impossível, esse pequeno órgão é capaz de matar sentimentos.

A violência das palavras não precisa vir precedida de berros, como alguns podem pensar. O simples "falar calmamente" já é capaz de grandes estragos. Ela destrói pontes, rompem elos de correntes de afeto, humilham, abusam, criticam, deturpam, denigrem, enfim, "fere", no sentido lato.

E é assim que acontece. A pessoa que profere as palavras nunca sabe o que fez de errado, mas a pessoa que as ouve é torturada a todo momento, pela repetição da cena. Principalmente para pessoas que não conseguem esquecer. Não sei se isso é um masoquismo subconsciente, mas parece que tais palavras, frases, sentenças, são sempre repetidas em sua mente, e o sentido dela, por incrível que pareça, não precisa ser ampliado. Porque ela já carrega em si todo o sentido, toda a intenção que o emissor pretendia ao falar.

E quando essas palavras colam no coração, e rompem caminhos tão bem traçados e delineados na sua mente, é como se, de repente, as cordas que seguravam seu barco fossem cortadas antes do tempo, e você se vê à deriva, nesse mar de palavras ditas com tamanha veracidade, mesclando-se a sonhos interrompidos, frustrações passadas e presentes, dores que você tinha certeza que tinha esquecido, ou que jurava nunca mais ter que experimentar.

E, nesse mundaréu de palavras, só o meu silêncio. O silêncio de alguém que não entendeu o sentimento principal que levou àquelas mesmas sentenças, que te destruíram por dentro. O vento parou dentro de mim. O mar parou de se agitar. Os pássaros sumiram, o sol amornou. E eu fiquei parado, no meu barco com cordas rompidas, navegando mais uma vez entre destroços.

Se eu deveria ter falado com a pessoa sobre o que aconteceu? Para quê? O que foi dito não poderia ser desdito, e uma desculpa aleatória não aplacaria a dor que senti no momento, só seria um paliativo, e a cada momento, eu ainda ouviria os ecos das palavras, como um lembrete, vindo de um velho farol, para me mostrar o quão insignificante eu sou.

Então eu preferi o silêncio da solidão. Mais uma vez. E aqui estou eu, navegando mais uma vez, entre destroços.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

mais uma postagem que não será lida.

Meu blog não é muito acessado. Isso é até bom, porque posso escrever algumas coisas que não serão lidas. Eu não me importo.
Já fiz várias e várias postagens sobre o poder de se importar com alguém. É recompensador quando nos importamos com alguém e somos recompensados com isso. Mas, o que se dizer quando você se importa demais, a ponto de fazer o certo para a pessoa errada?
Deixe-me explicar.
Às vezes nos doamos demais, se importando com alguém, e isso acaba meio que sufocando a outra pessoa. Não que tenhamos aquele dom egoísta de querer aquela pessoa só pra você, ou então estamos com ciúmes (o que, aliás, não é o tema dessa postagem), nós só mostramos  uma medida de apreço e afeição grande demais, e isso pode acabar dando a sensação de sufocamento.
Aí, de uma hora pra outra, você ouve um desabafo, e tudo que você tinha como certo cai por terra em segundos. É como o rompimento de um elo da corrente.
Vi um rascunho de uma postagem que eu tinha feito chamado "importe-se!". Li e reli este escrito por várias vezes, e fiquei deveras muito feliz em não tê-lo publicado. Acho que uma das lições que a vida te ensina é que nada é certo.
Quer dizer, uma simples palavra que mostre que nossa preocupação é infundada não faz mal. Nunca sabemos se estamos sendo inconvenientes. Agora, quando as palavras te diminuem até fazer você se sentir um lixo como ser humano, é outra coisa.
Mas foi bom, sabe? Eu não sou o portador da verdade e da sabedoria, e gosto de ser repreendido quando estou errado. Só nunca achei que seria repreendido por algo que eu sempre quis que fizessem comigo.

Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
  • Rainbow
  • Yngwie Malmsteen