quinta-feira, 27 de maio de 2010

Dentro de mim

Vou voltar para dentro de mim. Vou te encontrar na porta da minha casa, com seu vestido estampado ferrugem, rabiscando o chão de terra. Me beijará os lábios com ternura e dirá que eu demorei. Entrarei para tomar chá com meus amados irmãos, que contarão as memórias de todo o tempo que eu jogávamos futebol xingando uns aos outros, e todas as outras recordações tristes e felizes que passamos. Minha mãe virá com seus bolinhos de farinha de trigo quentinhos e me porá a mesa com um café feito por minha tia. Colocarei canela e verei você quieta, os olhos rindo, olhando para mim com toda a felicidade que lhe é possível. Me enconstarei no seu rosto para sentir seu calor, e vou ouvir dizer que estava com saudades.

Depois disso, verei meu pai entrando pela porta da sala, esperando para receber meu abraço, e o beijo de minha mãe. Levantarei de meu lugar, dando espaço para ele tomar o café comigo depois de tanto tempo. Seus dedos estranhos mexendo o café forte com pouco leite. Lhe apresentarei com educação, ele vai fazer toda a simpatia. Voce falará que eu me pareço com ele. Eu concordarei.

E vou ouvir os gritos de meus primos, fazendo arruaça ao entrar, para me receber com abraços e pancadas nas costas. Vou xingar e xingarei os cumprimentos mais exóticos. Todos se sentarão à mesa, minha mãe estará feliz por ver todos juntos. Vou disfarçar meu choro nos seus cabelos, fingindo que estou dançando uma música que está passando no rádio que está sempre ligado. Você vai me dizer que está tudo bem.

Vou desprender meu corpo do seu, olhando seus olhos claros. Vou beijar tua boca de novo, ouvindo meu pai falando de política e futebol, abrindo espaço para discussões acaloradas entre meus irmãos e meus primos.

Vou subir ao segundo andar, onde encontrarei o velho quarto dos fundos, onde passei tanto tempo. O sofá cama estará la, com seu estofado verde escuro, e um travesseiro ao lado. Vou pegar um cd meu, que não escuto há muito tempo, e me sentarei ao seu lado para ouvir as músicas. Olharei para você e saberei nesse momento, que tudo que eu passei, que eu vivi, todos os lugares que eu estive, todas as decepções amorosas que eu passei, todas as brigas que eu perdi, todos os amigos que se foram, tudo isso valeu a pena. Estou em casa. Dentro de mim.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Casa

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A casa foi montada cuidadosamente pelos dois. Nas paredes as fotos dos momentos felizes que tinham passado. No telhado, o futuro planejado tão meticulosamente. Na base, o amor construído com sangue, lágrimas e segredos que ambos esqueceram de contar por causa da correria em montar as paredes e o teto. Afinal, eles queriam a casa pronta.

Depois de certo tempo que é melhor ignorar, algo tornou-se ruim na base da casa. Os segredos começaram a fazer com que os momentos felizes na parede mofassem, e sempre fazia-se necessário uma nova mão de massa corrida, uma nova mão de tinta, e mais fotos felizes para ilustrar as paredes. Cada segredo contido na base aparecia em um canto da casa. Onde existia confiança, a sombra da dúvida apagou o rosto de ambos. Os sorrisos felizes em todas as confraternizações foram enegrecendo-se com a umidade do rancor passado. A casa, outrora tão colorida, caminhava para tornar-se um cinza grande e sem graça.

Eles ainda tentaram lutar, claro que tentaram. Por vezes os dois deitavam-se na cama conversando sobre o passado e porque a casa estava tão fria. Juravam amor um ao outro e iam dormir. Dentro de pouco tempo, as discussões passaram a não ter mais resultado, e a reconciliação tornara-se mais fria do que as próprias brigas. Ele queria reformar a casa desde o início. Ela pensava que mesmo assim os segredos continuariam a aparecer. Ele não pensava assim. Sabia que seu amor presente ia conseguir esconder os problemas da base. O que seria de um romance sem amor, que mantinha todas as peças juntas?

Mas o amor não segurou a nova reconstrução da casa. Pouco a pouco ele via os segredos, a dúvida, a tristeza, o passado, o rancor, o ódio, a amargura e a agonia em pontos estratégicos da sala de estar. A televisão perdera sua cor, e em todas os rostos apaixonados, ele via sua história. Pensava que sua vida seria como um filme, em que seria somente fechar a porta, e nada os alcançaria. Os créditos subiriam no final, quando o mocinho agarra a donzela em seus braços e a beija ternamente. Mas ele estava vivendo após os créditos, ele sabia. Talvez, na hora em que ele tinha que beijar a donzela, ele esqueceu a sua fala, e deixou-a lá, esperando o beijo. Ele também estava esperando o beijo. E todos os outros também.

Ela decidiu viver sua vida sem cores. As saídas solitárias tornaram-se rotina. Ela queria saber o que estava acontecendo àquele romance tão perfeito. Pensava no começo, quando a casa estava em sua construção, quando as paredes estavam sendo levantadas e o telhado já estava encomendado. Pensou que somente ele teria falhas na sua base, mas lembrou-se de seus segredos que também enterrara ali. Todos têm seus segredos, dizia ela na tentativa de se conformar. Mas as coisas não eram tão fáceis. Talvez eles tivessem segredos demais, talvez os segredos de ambos tivessem se encontrado na base e agora, juntos, eles estavam gritando por justiça.

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Ele agarrava-se à sua esperança de consertar tudo. Pensava que a culpa da casa estar ruindo era dele e somente dele, mas a sua consciencia dizia que havia mais culpados nessa história. Sua consciencia começou a cobrar respostas para tudo o que tinha acontecido no passado. Ele juntava as peças da sua vida na cabeça, fazia um retrospecto mental e sabia, sabia que, em algum momento, ele acharia alguma falha, uma peça faltando, que pertenceria a ela. Essa peça seria dela. A peça poderia até mesmo SER ela.

Ela já desconfiava dele em tudo. Estava convicta de que ele iria embora. Sabia que ele estava com outra casa em construção em algum ponto e não ficaria para reconstruir a sua casa com ela. Pensando assim, abriu ela seu coração de novo, mesmo que veladamente, e deixou outras emoções entrarem. Viu o mundo lá fora que reluzia com todas as cores que não havia mais em sua casa e sentiu falta de tudo. Sentiu falta de sua ousadia, de sua independência. Mas sabia que amava seu marido. Ficou então na janela olhando o gramado de outrem.

Ele lutava para ir contra a idéia de sua consciencia, que ele já apelidara de demônio pessoal. Não queria nem sequer saber que a culpa era dela. A culpa era sim, totalmente dele. Mas ele iria consertar tudo, pensava. As coisas voltarão a ser como antes. Ele trabalhara sozinho em tentar reconstruir sua casa, sem saber que sua esposa estava na janela, olhando o gramado de outrem.

Enfim, eles pensaram em desistir. Tudo o que tinham, as fotos felizes, o telhado futuro, nada disso servia mais para eles. Tão apodrecido que estava além de qualquer reforma. O mofo já saíra das paredes e atingira a cama onde dormiam, a mesa onde comiam as refeições, atingira a porta do coração de ambos, enferrujando a fechadura que selava o amor dos dois. As chaves não serviam mais. Eles não notaram.

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Ela partiu primeiro. Ele ainda ficou. O corpo dela partiu depois. Ele não entendeu. Até ver que ele mesmo já tinha partido daquele lugar. A mobília nem sequer importava para ele. Já estava longe, seguindo com o rosto tampado em meio a uma tempestade de areia, procurando outros lugares para se abrigar, enquanto não tinha forças para construir outra casa. Ela saíra em um cruzeiro antes de entrar na casa de outra pessoa. E a casa deles, tornou-se um monte de entulho. As fotos foram cuidadosamente queimadas para que ninguém soubesse quem estivera naquele lugar. O telhado foi removido com um golpe de vento chamado destino. Ambos estão lutando por aí. As vezes em cruzeiros ou em casas mofadas... A fechadura foi trocada algumas vezes. Mas uma coisa ficou, daquele tempo todo que viram seus sonhos envelhecendo: a certeza de que o que pode estragar qualquer contrução são os segredos escondidos na base. Pois todos os segredos existem para vir à tona.

Saiba guardar seus segredos em outro lugar.opening_box_secrets

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Espelho

Olhe para mim, eu sou o espelho. Reflito uma imagem crua de você mesma. Pode estar com a roupa que for, ou com a maquiagem que quiser, que eu te enxergo nua. Pule se desejar, ria se te fizer bem, mas saiba que muitas vezes, enquanto faz isso, eu te vejo chorando.

Saiba que, para mim, você é a pessoa mais importante que poderia aparecer. Eu sou a pessoa que você queria ser, eu sou a pessoa que você merecia ser. Eu sou você por dentro e por fora, sou o começo dos seus romances e o final de seus sonhos. Seus desplantes, sua raiva, sua dor, seus números de dança e seu boa noite final, sou eu quem recebo.

Olhe para mim. Me diga o que você vê. Depois me diga o que você quer ver. Depois coloque-se no meu lugar e diga a você mesma se isso que você está sentindo é real. Pergunte-se se você responderia com toda a felicidade do mundo que está bem, quando não está. Que não está apaixonado quando sabe que está. Que não está mentindo, que não está roubando, que não está sendo egoísta, que não brigou com aquela pessoa porque ele disse justamente o que você sabia que era verdade e mesmo assim quis esconder. Diga-me se realmente ama aquela pessoa, se pensa só em você mesma, se vai chegar ao fim do seu caminho serenamente, se vai conseguir o emprego, se fugiu do compromisso com aquela outra pessoa não porque não a ama, mas por medo. Sinta-se dentro das respostas que você daria a si mesmo. Saiba que seu coração pulsa dentro de você. E o meu coração também pulsa dentro de você. Porque eu, meu caro, ou minha cara, eu sou você, desnudo.

Depois de pensar se deve ou não responder com toda a austeridade que eu te respondo, pergunte-se se quer continuar nesse caminho. Pergunte-se se algo está errado na sua vida, e depois faça o mesmo percurso, mude de lado e responda. Pense em você daqui a uns anos, voltando a se olhar no espelho com esse mesmo olhar cético que mostra agora, e se perguntando a mesma coisa. O que dirá na resposta: “eu estou no mesmo lugar, e você continua falando as mesmas coisas”… ou então “eu mudei, eu tentei, e mudei, e segui outro caminho, algumas coisas deram errado, outras deram certo. Eu fui louco o suficiente para mudar tudo, e tudo deu certo no sentido que eu eu quis. eu tentei seguir um caminho que não estava trilhado, que não estava predestinado, perdi algumas pessoas, encontrei outras, mas fui eu mesmo quem conseguiu. Eu fui a porcaria de um louco e consegui alcançar meus objetivos”. Lembre-se, eu sou você. Por favor, não retorne até mim daqui a cinco anos do mesmo jeito que está chegando hoje.

Pense em todas as pessoas que já se refletiram no seu espelho. Pense na energia que você sentiu olhando cada um dos olhares que se cruzaram por meu intermédio. Pense nos amigos, nos certos e nos errados, nos amantes, nos inimigos velados, nos curiosos, nos parentes… e depois me diga quantas pessoas você espera continuar revendo no seu espelho depois de alguns anos. Pense bem nessa parte, porque ela é uma parte grande na definição do seu caminho. Eu conheço todas as pessoas que passaram olhando para mim, eu sou cada uma delas em suas determinadas épocas, mas eu sou você agora. Poderia eu, sim, dizer a você quem é a pessoa certa, e quem é a pessoa errada, mas isso estragaria toda a surpresa, boa ou ruim, que você teria no caminho.

Depois disso, sinta-se a vontade para fazer o que quiser. Se quiser jogar o copo de bebida em mim, jogue. Quebre-me e depois recomponha-me, mas eu serei ainda você mesma. Ria, ou chore, maquie-me com seu sorriso angelical, ou mande-me à merda. Mas reaja. Faça tudo no mundo parecer com sua imagem no espelho. Faça o mundo ser sua imagem no espelho. Enxergue a sua verdade no rosto de todos no seu caminho, saiba que seus inimigos te amam mais que seus amigos temporários, que seus parentes são chatos sim, porque família perfeita só existe em propaganda de margarina. Saiba que as palavras vão valer menos do que eu. E eu sempre serei você, de alma nua, no espelho.

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O coração de pedra e o homem com o martelo

 

 

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Acho que todo coração é uma pedra. Marcamos nela o nome de todas as pessoas que nos são importantes, queimamos as coisas que nos fazem sofrer. No final, todos nós temos corações de pedra. Seja um amigo querendo entender uma situação, uma pessoa apaixonada que não é correspondida, uma pessoa que tem medo da solidão, marcamos nossos corações com ferro e fogo. Com mais fogo que ferro. Sempre.

Reparou como é difícil para lembrar coisas boas que vivemos, e só lembramos das coisas ruins? Tenho certeza que as pessoas que estão com alguma coisa contra mim agora pensam nas coisas que eu fiz que as prejudicou, mas não pensam em tudo o que eu fiz para ajudar, quando recebia ligações no meio da noite, ou senão como confidente. Mas é assim mesmo. Não posso falar que perdoo 100% meus amigos, sempre fica aquele pedaço marcado a fogo.

Outra coisa interessante, é a repetição, a frequencia com que marcamos uma coisa. Vivemos uma decepção no passado, com uma pessoa que amamos, e depois de um tempo parece que tudo ficou esquecido, porque sofremos a mesma coisa, com o pretendente diferente. E depois que levamos essa ferida, lembramos todos os atos que os outros antes dele fizeram por baixo da cicatriz nova. Parece até cena de cinema, lembramos até das feições que fizemos, das palavras que falamos, dos cheiros, das músicas… e ali estamos, em frente a nossa nova velha decepção, uma releitura de nossa tragicomédia com outros carrascos.

Quando achamos que nosso coração ficou pequeno pro tanto de coisa que já passamos, parece que essa “pedra” aumenta de tamanho, ela se expande só para vermos outras feridas que nem lembrávamos, ou para ter um espaço fresco para outra pessoa marcar a ferro. Ou a fogo. Com mais fogo que ferro.

Depois disso tudo, ainda temos nosso algoz perfeito, que é nossa consciencia. Ela nos lembra, nos massacra com cada ato errado que cometemos no passado, que levou nosso amor embora, que nos deixou deprimido por semanas, que nos fez ficar furiosos. Sabe, acho que a depressão é resultado do trabalho perfeito entre a nossa consciencia e nosso coração de pedra. Ele bate com o martelo em nosso coração, para vê-lo ressonando em nosso cérebro todos as cenas que lutamos tanto para esquecer. E quando começamos a nos recuperar, ele bate de novo, só muda o ritmo de toque. Outras memórias são acionadas, outras depressões vêm e pronto, lá estamos nós prostrados, sofrendo de novo.

Fuja de repetições. Saiba que o dia precisa nascer do mesmo jeito, seguindo o mesmo caminho, mas voce não é um sol, potente, reluzente… voce é voce, uma pessoa que busca, assim como todas as outras que marcaram seu coração com ferro e fogo, ser feliz. Então seja feliz! Corra atrás do que voce quer! Veja se vai dar certo. Se não der, deixe pra trás. O mundo não vai acabar agora e nem amanhã. Aceite as batidas da consciencia no seu coraçao de pedra, sofra um pouco, mas saiba que, tanto o seu coração de pedra quanto sua consciencia, são complementos da sua alma. Não pense que sua vida acabará por causa disso. Talvez a consciencia só faça isso porque ela mesma está cansada de ver o coração sendo marcado a fogo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

“Ser”

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Seria eu um mentiroso se dissesse que tenho motivos ficar triste todos os dias. Todas as minhas cartas são jogadas aleatóriamente, com um destino que os deuses não me disseram. Posso acordar triste e acabar louco de felicidade no final da noite, ou posso acordar completamente feliz e terminar meu dia derrotado.

“Sou” é uma palavra forte. Seria eu mentiroso… foi assim que eu começei o meu texto. “Seria eu” tanta coisa, teria tantos adjetivos quanto substantivos, acompanhados de todos os pronomes que, no final, remeteriam a mim, “sou”.

“seja eu o mais nobre dos amigos, seja eu o mais doce inimigo, seja eu o pior amante ou o melhor acompanhante”… gosto de brincar com todas as coisas que eu posso “Ser”. Tire de mim tudo o que eu sou e jogue-me ao vento, veja-me flutuar indiferente por sobre os mares de problemas que outras pessoas criaram, e veja-me sendo, no final, algo completamente diferente do que voce imaginou no princípio.

Deixo você ser meu sol, se quiser. Deixo voce me trazer a lua se desejar. Mas só ficar perto já bastaria para muita coisa. Afinal, o sol me obrigaria a usar protetor contra você, e o que eu vou fazer com a lua? Bastaria que você simplesmente derramasse em meu copo toda a felicidade de saber que eu estou vivo, e amanhã eu serei o mais feliz arlequim do picadeiro.

Deveria eu “ser” o que vai partir em breve? As palavras pronunciadas podem marcar a alma de tal forma que nunca serão esquecidas. Se um de nós vai conseguir fazer isso um com o outro, eu não sei. Espero que não. O pior de tudo são as coisas que ficam atrás dos meus olhos. Elas ficam num muro escrito com fogo, eu sempre as leio. É uma coisa involuntária. Queria poder “ser” a pessoa que respondesse na mesma altura dos meus algozes. Mas fico calado, tentando “ser” indiferente.

Porque isso tudo? Porque as palavras completam em mim o sentido de “ser”. Elas prendem meus pés na lama de tudo o que os outros pensam e falam. Fico sem ação vendo todos os meus inimigos indo embora, deixando-me nesse poço sem fundo. Mas não tem problema. Eu sempre consigo sair daqui. Já enganei a morte umas vezes, posso enganar mais algumas.

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domingo, 9 de maio de 2010

IDA E VOLTA OUTRA VEZ

 

Repetition

Tudo na vida é repetição. Fazemos as mesmas coisas que fazíamos no passado, encontramos amigos que se parecem com outros que já tivemos e o tempo levou embora, temos nossos relacionamentos com pessoas com o mesmo temperamento, fazemos tudo do mesmo jeito embora pensamos estar fazendo diferente, e para atingir o mesmo resultado.

Amar é repetição. É mais que não querer viver sozinho. É ter alguém para apoiar sua loucura ou simplesmente te abraçar na noite que voce desabar. Todos desabam, e mente quem disse que nunca desabou.

Embora tudo na vida possa se repetir, os personagens sempre mudam. Uma pessoa que, na parte anterior da sua vida não tinha tanta importancia torna-se um dos personagens principais no teatro da sua vida, e você pode contar com ela para não repetir os atos passados que levaram a uma desilusão, uma tristeza ou um rompimento prematuro. Essas pessoas novas que encontramos possuem em todas as características traços de alguém que conhecemos, que pensamos ter visto em outra vida, mas não nos tocamos que essa pessoa tem as características dominantes daquela que acabou de sair da sua vida. Essa falha de julgamento de nossa parte faz com que tentemos repetir atos do passado, os mesmos atos que cometemos no relacionamento anterior, pensando que, como esse relacionamento é mais recente, as coisas podem ser diferentes.

Mas não é. Os erros se repetem numa sequência artimética. A pessoa também pode estar começando a mostrar os erros que levou ao seu término também, não pense você que é único nessa peça de teatro. Mentiras pequenas com grandes consequências, brigas que parecem “deja vu”, noites sem dormir, coração dolorido, lágrimas escondidas, tudo isso, todo o pacote de “Apaixonado para sempre” é apresentado a nós na nossa repetição dos atos.

E porque repetimos esses atos? Eu tentei descobrir, juro que tentei. De física a metafísica, não achei lá muita coisa, só relatos de pessoas que acabaram, na sua busca pela resposta, repetindo os mesmos atos do passado. Isso é inato a todos.

Será que, já que a vida é repetição, o amor também o é? Será que amar é repetir sempre os mesmos atos com pessoas diferentes, esperando que aquela pessoa que está recebendo sua ação é aquela que vai te entender, que vai superar seus erros, que vai ter aquela palavra que vai quebrar a repetição da sua vida? Eu penso que, se eu continuar pensando assim, eu vou estar apoiando meus erros nos meus relacionamentos anteriores, e admitindo que não sou perfeito. Mas isso não quer dizer que a pessoa tenha a obrigação de ter essa tal “palavra” que vai mudar minha repetição. Se eu tiver menos sorte, é capaz dela ir-se embora simplesmente para que eu recomeçe minha caçada a outra pessoa que tem a palavra mágica.

Olhando para trás, eu já tentei achar o exato momento que minha vida começou a ruir. Não consegui achar, talvez porque eu sou orgulhoso um tanto demais para admitir, ou porque não tenha uma pessoa que pare o filme no exato momento e diga:”Viu, voce errou bem aqui”… E ainda tem aquele pequeno ponto, que eu chamo de “Salve Rainha”. Talvez não tenha sido um erro meu. Já pensou nisso? Se sua vida é uma repetição, talvez o erro não seja seu, mas sim da outra pessoa que não entende que voce está repetindo a sua vida. Talvez a pessoa não estivesse preparada para o que voce ia dizer, para o que voce ia fazer, para nada do que voce esteja pensando. Talvez ela ame menos, ou talvez ela ame diferente. Talvez ela estivesse esperando o erro da pessoa anterior da vida dele.

Engrenagens diferentes uma hora param de funcionar, e as palavras são engrenagens que, junto com os atos, mantém tudo o mais funcionando organizadamente. Quando estamos acostumados com a nossa vida, com os nossos atos, com os atos passados que levaram a um rompimento, isso pode fazer com que estejamos sempre esperando essa palavra mágica que conserte tudo, que traga um conforto para nós. Quando não achamos esse conforto, começamos a temer o pior. Que a pessoa não te ama, que está indo embora tal qual o relacionamento anterior, e isso é terrível. Aí mandamos a razão praquele lugar e começamos a agir, mesmo que instintivamente, do mesmo jeito que agíamos no passado. Até que a pessoa, por falta da palavra mágica, vai embora tal qual o relacionamento anterior.

Acho que nosso Criador deveria ter deixado-nos um manual. Nossa vida está sempre travada num “replay” contínuo, estamos sempre no mesmo lugar, só que mais velhos e mais machucados. Os personagens mudam a nossa volta, e estamos nesse ritmo: ida e volta outra vez. Repetiçao.

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sábado, 8 de maio de 2010

O 1º ato. Para quem se apaixonou

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De repente, apaixonei-me. Esse sentimento entrou na minha casa pela porta da cozinha, pegou um lanche rápido na mesa de café e foi tomar seu lugar na sala de estar. Quando cheguei, encontrei-a nua, no meu sofá de dois lugares. Seus olhos diziam-me, sem dizer uma palavra, que estava sentindo minha falta. Fazia muito tempo que não tinha a paixão ao meu lado. Ela nem sequer esperou que eu colocasse meus livros na mesa, atirou-se em minha direçao, com beijos longos e suspiros em meu ouvido, fazendo meu mundo cair pouco a pouco. Fui sentindo o mundo reconstruido-se a cada beijo, a cada carícia. Senti-me dentro de uma garrafa de absinto, e ela era a fada. Cada ato apaixonado preparava o bohemian, intenso como ele só.

Larguei-me no sofá, com a paixão em cima de mim, suas pernas enroladas em meu quadril. Ela conseguia arrancar de mim minha calma, fazia-me brigar com minha paz interior, que gritava por um momento de razão naquilo tudo. Mas minha selvageria repentina, misturado com toda aquela languidez momentânea fazia tocar em minha cabeça as músicas mais eróticas possíveis. Toda a razão foi expulsa de meu cérebro, dando lugar a um sentimento mixado de desespero e fome, uma fome além do normal.

Tentei desvencilhar-me de seus braços ao meu redor, somente para reparar que eu estava, na verdade, arrancando minha camisa. Todos os meus sentidos respondiam ao comando dela, a paixão. Quis que ela fosse embora, quis que ela ficasse quieta, quis que ela terminasse logo com aquilo que ela viera fazer. Senti que eu deveria ter feito tanta coisa, que eu simplesmente a abraçei para mostrar o que eu queria realmente.

Cada ato da paixão pulsante foi como um filme que não via há muito tempo. Senti um mundo sendo criado pouco a pouco, cada personagem foi aparecendo e desaparecendo numa rapidez incrível. Era como se minha casa estivesse numa corrida a mais de 100 km/h. Em um determinado momento, a paixão pareceu-me muito com a loucura, que também já tinha vindo antes me fazer companhia. Entreguei a paixão tudo o que eu tinha, ela gemia baixo no meu ouvido o quanto tinha sentido minha falta, e eu ouvia dentro de mim a mesma palavra:”mentira”. Todas as vítimas da paixão ouviam isso. Eu tinha que tentar fazer diferente.

Desvencilhei-me do seu corpo em cima do meu, e levantei num ímpeto de sair e nunca mais voltar. Ela me fitava no sofá, minha camisa amassada no chão. Ela não iria fazer nada que me impedisse de sair, porque ela sabia que eu não conseguiria. Olhei para a porta, calculei todos os 6 passos do sofá até a saída daquele estranho acontecimento, mas estaquei. Todo a minha vontade de sair foi arremessado pela janela quando olhei para ela ali, esperando.

Levantei-a e em meus braços, a carreguei para meu quarto. Enquanto a carregava, meu coração repetia a mesma cena, carregando-a para dentro dele, num lugar vazio, limpo e arrumado. Pensei que depois seria mais difícil sair dali, mas não quis saber de mais nada. A paixão era minha depois de muito tempo.

Tudo o que se seguiu no meu quarto foi digno de um conto de Sade. Estava dentro da paixão e a paixão possuia todas as minhas forças. Corpos que tornavam-se um, uma quimera pulsante, viva, que suava e tremia a cada respiração, que se entregava e recebia a cada ato. Senti-me o mais forte dos deuses e o mais fraco dos homens. A paixão sussurrava ao meu ouvido que não me deixaria ir embora de novo, eu suspirava dizendo que ela iria embora assim que terminassemos aquele jogo. Ela ria, aumentava seu ritmo.

No clímax, nós éramos dois loucos. Os últimos atos tornaram a chegada a Shangri-la mais prazerosa. Enchi-me de paixão e ela encheu-se de mim. Cada um dando o que podia, e recebendo o que queria. Ela deitou-se ao meu lado, o corpo tremulo, lábios entreabertos, o corpo formava uma silhueta na minha cama, uma imagem divina. Envolvi-a em meus braços, ela acolheu o meu carinho. Afaguei seus cabelos e beijei sua orelha. Ela disse que queria isso de novo.

Logo depois, como se o tempo parasse de existir, ficamos ali, juntos. Adormecemos, e não sei se fomos para o mesmo lugar nos nossos sonhos. Quando acordei, ainda sentia todo o perfume do corpo dela. A camisa estava amassada no chão da sala. A paixão se fora. Senti o calor dela enquanto passava pelo corredor, mas não a encontrei. Ela foi-se do mesmo jeito que veio, de surpresa. Deixou-me aturdido demais para pensar qualquer outra coisa, mas também não pediu muito, a não ser meu corpo e alma. Senti-a dentro de mim, no meu coração as fotos de seu rosto tomaram lugar em todas as molduras. Sua voz existia em todas as músicas, seu cheiro em todos os perfumes. E eu existia somente em seu caderninho preto. Enquanto ela marcava cuidadosamente meu nome, eu marcava seu rosto de novo. Mais uma vez, apaixonei-me.

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

O circo das almas perdidas

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Vou entrar para o circo das almas perdidas

Onde todos vão quando enlouquecem

Serei a atraçao principal

Para aqueles que me conhecem

Estarei no picadeiro

Antes que a banda começe

Com seu arranjo desorganizado de cordas

Que a todos os loucos estremece

Os espelhos arrumados ao meu lado

Imagens de mim mesmo se repetem

Pensarão eles que estão loucos

Vendo mais de um daquele se arremete

Impetuosamente com sua cartola e bengala

Num terno velho e puído com uma flor silvestre

No bolso ao lado da gravata vermelha

Que peguei emprestado sem que soubessem

Destilarei meu ácido em todos os valentes

Incautos com suas provocações inocentes

Que recuarão, com palavras indecentes

Ruídos para mim incoerentes

Misturados com os aplausos crescentes

De todos os que, conforme dito anteriomente

Me conhecem pessoalmente.

Quando rufarem os tambores

E todos prenderem sua respiração

Estarei com uma arma carregada

Apontada para o coração

Daquele que promoveu toda carreira desgraçada

E me deixou ali em completa escuridão

Até que as luzes se acenderam

E eu notei então

Que tudo o que eu passei até ali

Fôra simples ilusão.

Toda a simples ilusão da felicidade

Que enlouquece os homens sem reparar idade

dos homens nos campos

Até aqueles das cidades

Mais longínquas do mapa

Que não vemos nem por curiosidade

Todos eles, sem distinção

Acabam em simples infelicidade.

A platéia ainda espera a arma disparar

Coitados, será que os deixarei esperar?

Devo puxar o gatilho e tudo isso terminar

Dando aos meus conhecidos algo mais para olhar

Além do homem no picadeiro que ri sem parar?

Meu espetáculo não terminou, querida

Se estou com a arma na mão, é porque ainda

Haja toda a esperança enlouquecida

Que sai até da alma mais ferida

E transforma em jardim lugares sem vida.

Estou no circo das almas perdidas, sim, e repito

Que estou louco, mas não estou esquecido

De todos os raios de sol que existem além desse céu esquisito

Que curaria até a alma do mais aflito

Que ousasse lhe pedir abrigo.

No final, deixe rufar os tambores

São a trilha sonora da minha fuga

Minha corrida totalmente desvairada

Para fora das raias da culpa

Enquanto eu estiver correndo

Ouvirei a multidão em sua súplica

Do show esperado que não acontecerá nunca.20080411155637__mg_6964

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para quando a morte chegar

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Ele sentia que a morte ia chegar

Mesmo ao respirar

Sabia que um momento ela poderia parar

Assim que o inverno chegar

O vento frio, uma carta trará

Desesperado ele a lerá

Sabendo que sua morte ia chegar

Ao de súbito percorrer

Com os olhos o que deixaria ao morrer

Não pode deixar de estremecer

Pois nem mais o chá conseguiria beber

Sem pensar no dia que iria morrer

Seu velho hábito de sorrir

Ao pensar nas coisas porvir

Desaparecera com um leve ruir

De uma porta a se abrir

Ele lá parado

Por vezes apavorado

De ver o vulto ali, estacado

De repente, ao seu lado

Com o olho esbugalhado

Completamente extasiado

Olhando para o rosto suado

Daquele que estava amendrontado

Mortificado

Naquela poltrona sentado

O jornal ao seu colo pousado

O gato deitado no sofá fugira assustado

Talvez ficara enauseado

Com o cheiro acre excretado

Por aquele corpo, outrora rebentado

Não sabia se de tiro fora executado

O corpo escondia-se abrigado

Num capote todo rasgado

E outrora costurado

Talvez o carrasco, coitado

Tivesse usado em seu ultimo condenado...

Mas o que era aquilo?

Que afligia o homem, antes tão tranqüilo?

Que conseguia falar do universo desconhecido

Como se fosse um livro esquecido

Por gerações procurava com afinco

Maneiras de burlar aquele segundo infinito.

Sim, a morte

Dessa vez o homem não teria tanta sorte

Se por ventura houvesse um motivo torpe

Uma troca, uma barganha simples, um dote

Que não a fizesse ser por agora sua consorte

Ao adentrar os muros da triste morte

Morte

Quando vier, estarei preparado para ti, morte!

Com armas na mão, segurando com pulso forte

Apertarei o gatilho, meu chumbo contra seu capote

Venha agora, não deixarei restar de ti nem um filhote!

Depois de ti, o mundo será minha estrela do norte!

Assim ficou o homem a divagar

Enquanto sua alma ela veio buscar

O chá na mão a esfriar

O jornal no colo a repousar

Seus olhos, para o nada olhar

Enquanto o gato fugia a miar

E o homem, coitado, ainda a se preparar

Para quando a morte chegar...

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Além de tudo, amigos

Até que ponto poderíamos dizer que somos amigos de uma pessoa? Até que ponto podemos dizer que temos um amigo?

A amizade em si já é uma coisa complicada desde a sua concepção. Uma afinidade torna-se um laço fortalecido a cada dia por uma série de coisas que vemos ou fazemos que nos remete diretamente a esse amigo. Aí entramos em contato com essa pessoa, que até pouco tempo não tinha tanta importância, de uma forma diferente das outras. Os telefonemas se tornam mais constantes, as confidências encontram seu lugar comum, o mundo inteiro é construído dentro desse círculo, que pode conter desde uma pessoa até uma infinidade delas. Torna-se legal ser altruísta, ter aquela palavra certa na hora certa, e tudo o que fazemos é para agradar esse amigo tão importante.

Mas, considerando tudo além do que vemos inicialmente, o que será que fazemos para “ajudar” um amigo? Meus amigos mais próximos hoje não são os mesmos que eu tinha perto de mim há alguns anos atrás, mas poderia dizer que é uma história que se repete. E pior ainda, é uma história que você vê repetindo porque esse fato aconteceu com você. Na época, estávamos perdidos quando vimos aquela enxurrada de problemas se aproximando, não tínhamos noção do que fazer, e mesmo assim, conseguimos passar por isso vivos para contar aos nossos futuros amigos a sua saga. Por isso tentamos ajudar um amigo, justamente para ele não ficar no lugar onde você estava anteriormente. Reparem que eu escrevi “tentamos”. Porque, quando nós estávamos nessa mesma situação, talvez houvesse um outro amigo que lhe deu o mesmo conselho que hoje você compartilha com essa nova pessoa. E será que você ouviu essa pessoa antes? Será que pôs a mão na consciencia e disse “sim, ele está tentando me ajudar, será exatamente isso que eu farei”? Ou talvez o motivo da recusa de seguir seu conselho faça o seu novo amigo ser tão importante, porque ele lembra você no passado?

Experiência é uma coisa irônica. Só conseguimos quando é extremamente tarde. E depois, quando já temos a experiência, não há muitas pessoas que querem ouvir a história da sua vida. Todos continuam com seus problemas, sejam eles semelhantes aos seus ou não. Se eles vão conseguir sair dessa fase como você saiu antes, isso nem eu, nem você nem ninguém sabe dizer.

Mas eu arriscaria ir mais além nesse pensamento. Me arriscaria a perguntar porque Diabos temos que tentar mudar a vida dos outros? Quero dizer, será que a pessoa quer realmente que sua vida seja mudada? Porque nos agarramos a conceitos personalizados de como sair desse problema, sendo que essa pessoa, nosso amigo, pode acabar encontrando uma forma de resolver isso do mesmo jeito que nós conseguimos, e sem seguir conselhos de ninguém. Talvez os conselhos, ao invés de fortalecer uma opinião, acabam deixando as decisões da outra pessoa mais miseráveis que antes. Ela com certeza não precisaria ouvi que sua vida está uma porcaria, que suas decisões estão erradas, que ela vai acabar se ferrando se for até o fim. Ela precisa é de um ombro amigo algumas vezes. Não que eu esteja querendo dizer que nunca mais vou aconselhar meus amigos, longe disso. Mas acho que eu mesmo sou duro demais com eles. A preocupação deve existir, mas ainda assim, temos que ter a empatia em maior quantidade que a preocupação, para podermos ver que, seja lá de que jeito nós conseguimos sair do problema que ele enfrenta agora, essa pessoa que você se importa quer, antes de mais nada, alguém para ouvir seu caso. Talvez no final da narração dele haja a resposta milagrosa que vai solucionar seu problema, e ficaremos com raiva por não termos pensado nisso antes.

Porque eu estou escrevendo isso, eu me pergunto. Acho que a resposta está implícita. Não se pode mudar todo mundo. Mas podemos mudar a nós mesmos. Não de todo, pois assim perderemos nosso amigo, mas em doses homeopáticas, de pouco em pouco. Eu mesmo mudarei um pouco minha atitude quanto a meus amigos. Seus problemas são, é claro, meus problemas desde o minuto que ele me contou. Mas o mundo não gira ao meu redor. Ele gira ao redor de todos, e eu não posso e nem devo tentar mudar isso. Por isso, eu peço desculpas de antemão a todos os que foram vítimas de minha vontade altruísta autocrata. Eu mesmo não tinha reparado o quanto eu faço sofrer por querer forçar uma saída para um problema.

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Se eu enlouquecer um dia

insane-insanity-plea-straight-jacket-crazy-nuts Se eu enlouquecer um dia, gostaria que todas as pessoas que me odeiam que me deixassem em paz. Não venham me cobrar dinheiro ou antigas dívidas de bebidas ou discussões. Apenas me deixem com minha loucura comedida.

E já que eu estarei louco, peço a todos os meus amigos que me acolham não em seus lares, mas na área do cérebro chamado “paciência”. Sei que muitas pessoas não vão querer saber das minhas teorias de conspiração porque eu estarei louco, mas pelo menos ouçam.

Quando eu estiver na praia, por favor, abram espaço a mim e minha loucura, para que possamos aproveitar mais aquele pedaço de paraíso do que todas as outras pessoas que, com medo de se tornarem loucas como eu, deixam dentro de si todo o ímpeto de fazer o que querem. Pois a loucura é isso, liberdade sentida e perpetrada de modo puro e simples.

Vou passar correndo na sua porta gritando ao mundo coisas sem sentido, mas garanto que só será sem sentido para vocês, calmos e normais, que preferem uma vida terrível dentro de uma ostra do que simplesmente gritar para limpar as gargantas de todas as sujeiras que acumulamos depois de um dia inteiro de trabalho. Porque loucura é isso, simplesmente aliviar toda a tensão em gritos, correrias descompassadas e gargalhadas extremas.

Recitarei poemas de amor ao invisível do meu lado. Por favor, nesse caso eu imploro, não interfiram. Eu estarei conversando com a pessoa mais amada do meu mundo, e você sabe como é esse lance de loucura, é uma vida tão cheia de compromissos que eu não terei essa oportunidade de novo tão cedo. Pegue papel e caneta e anote tudo, porque loucura é isso, é a simplicidade de sentimentos que muitas pessoas não têm e preferem manter dentro de castelos fortificados.

Vou ficar feio quando eu quiser, vou ficar bonito quando eu puder. Fuja de mim quando eu estiver bonito e bem-vestido, e aproxime-se quando eu estiver feio. Porque loucura é isso, é exteriorizar em você a sua loucura, para que sua mente fique tranqüila para pensar coisas normais.

Ficarei amuado e deprimido por dias. Não me atrapalhe, só fique do lado e não fale nada. Um ombro normal é bom de vez em quando. Porque loucura, meu amigo, é isso, perceber todas as mudanças do seu mundo interior e se recolher para aceitar tudo.

Vou cantar músicas em ritmo alucinante, vou falar de matemática como se fosse receita de bolo, vou parafrasear frases de filmes, vou viajar nos sonhos e aventuras alheias. Darei asas a criaturas lendárias e falarei com tanta convicção que todos acreditarão. Porque a loucura é isso mesmo. Você consegue convencer os outros que você é realmente um gênio, e não um louco. Como se essas qualidades se distanciassem.

Vocês vão achar esse texto grande demais para ler, e vão parar antes do fim. Não tem problema. É porque a loucura é assim mesmo. É amar tanto sua loucura que as palavras nunca vão ser o suficiente para exemplificar todo o sentimento.

Como disse Mário Quintana, “faça o que for necessário para ser feliz, mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples. Você pode encontrá-la e deixá la ir embora por não perceber sua simplicidade”.

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O olho mágico e suas lendas

23003_magic_eye“Bom dia, amigo”, disse uma pessoa, colocando a mão em meu ombro no supermercado. Depois de olhá-lo por uns instantes, e mesmo sem conseguir lembrar de onde eu conhecia aquele cara, eu respondi com um sorriso amigável e umas palavras curiosas. Estranho como usamos as palavras curiosas. Curiosas no sentido de querer saber algo que você realmente não quer saber. Eu, por exemplo, não queria saber da esposa daquele cara, da mãe, da filha e primos, ainda mais porque eu sequer lembrava daquele sujeito.

Penso que às vezes ficamos mecanizados demais. Não visitamos mais nossos amigos, nossa vida torna-se repleta de desconfiança até mesmo com parentes próximos. Quando abro a porta do meu apartamento na hora de sair para a faculdade, imediatamente todos os olhos-mágicos das outras portas se enegrecem. Todos curiosos pela vida alheia, algo que pudesse dar um sentido a alguma coisa que aconteceu durante seu dia. Por exemplo, algumas pessoas se perguntam porque eu fico quase sempre só em casa. Alguns vizinhos me ouvem conversando com minha amiga no telefone (e, de fato, temos muito a conversar). Mas eu posso dizer que, de 7 dias por semana, somente 1 dia uma pessoa vem a minha casa. Fica geralmente pouco tempo.

Baseado nesse fato, já ouvi relatos engraçados a meu respeito. Desde satanista até drogado. A mente humana encontrou seu anti-herói, então é hora de ampliar ao máximo esse acontecimento, para ter alguma coisa para falar, para descrever a seus amigos e parentes, e ter algum motivo para olhar pelo seu olho-mágico quando eu sair para a faculdade. Depois disso, o que acontece quando a lenda morre, é simplesmente um encontro casual em um supermercado, onde a pessoa consegue dizer até qual a sua colônia preferida, e voce não sabe absolutamente nada sobre ele. Para voce, ele é somente uma porta, um olho no olho-mágico, um transeunte que te viu chegar em casa as 2 da manhã de sexta-feira, que não tem uma esposa, uma namorada, um affair ou uma complicação. Logo, essa pessoa torna-se uma esponja, querendo absorver de voce qualquer coisa, um ato pequeno que dê vida aquela vida que, antigamente poderia ter sido igual a minha hoje.

Mas o cumprimento mecanizado e sem sentido, o “como vai”, “tudo bem”, deixa a pessoa que está esperando sua mensagem apreensiva. Ele não quer te dizer como ele está ou se está tudo bem. Ele quer que voce conte a ele o que está acontecendo dentro da sua casa, por detrás do seu olho-mágico, que ele percebe que nunca se enegrece quando uma pessoa sai do apartamento da frente. Ele quer saber porque meu interfone não toca, porque passo horas no telefone, porque cozinho para uma pessoa só, porque ouço as musicas que eu ouço, que cheiro de incenso é aquele que sai do meu apartamento, porque a segunda janela do meu apartamento nunca está aberta. O desespero toma conta da mente quando não acha as respostas que quer.

O Essencial e o Invisível aos olhos

É sempre o amor. Ele contagia, afeta, descompensa, acaba com velhos padrões, impõe novos, rompe nosso bom-senso. Era o tempo que eu achava que o amor era divino. Mas, se ele é divino, porque sofremos de amor? Porque nos vemos num redemoinho de acontecimentos inesperados, lidamos com a intolerancia do parceiro, que provavelmente, voce pensa, não te ama o tanto quanto você o ama. É uma forma de matar mais silenciosa que existe. Ele nasce no silêncio, cresce em terreno fértil e morre no outono de uma relação que empobreceu o solo outrora fértil do coração. Sempre que ele se vai, parece que morremos um pouco. E a cada relacionamento, a cada tentativa, a cada erro e a cada recusa, o solo desse coração torna-se um cerrado, com pouca vegetação, uma casinha destruída num canto, e sem vida nenhuma.

broken-house-285x300Mente quem fala que o amor não pede nada. Ele pede sim. Pede sua atenção, sua calma, sua respiração, seus batimentos cardíacos, seu sangue, seus pensamentos, seu suor, seu tesão, sua surpresa e, mais importante, pede sua falta de visão. Falta de visão para saber o que vai acontecer depois. “É consequencia da imprevisibilidade com que lidamos”. O que hoje parece ser a história de amor épico, amanhã torna-se um pesadelo vívido. Começam as decepções, o descaso (esse, ao meu ver, o pior de todos os pontos), as brigas, o amor torna-se tédio, rancor, raiva, ódio e, por fim, torna-se nada. Mas, engana-se quem diz que isso faz a pessoa aprender a lição. Ele, logo depois, está procurando outro amor, para semear naquele mesmo terreno devastado pelo amor antigo. Pode demorar o tempo que for, mas vivemos sempre em função daquele pequeno tempo que o amor toma tudo de nós. E depois, estamos vivendo a mesma coisa, o amor tomando sua calma, sua respiração, seus batimentos cardíacos, seu sangue, seus pensamentos, seu suor, seu tesão, sua surpresa e, não esqueçamos o principal, sua falta de visão.

Mente quem falar ou pensar que eu não procuro isso. Eu preciso disso também. Sei que estou no meu caminho. Quero viver como uma criança por uns dias, ou uns meses. Quero entregar para essa pessoa eleita o melhor de mim, sabendo que não serei criticado, roubado, assassinado. Não no começo da relação. Depois de um tempo, talvez minhas falhas torne a pessoa mais insensível comigo, ou eu com ela, eu não sei. Acho que devíamos esperar por isso algumas vezes. Não sempre, só o tempo necessário para que não soframos tanto quando o amor começar a entrar no seu crepúsculo.

Mas até lá, ame muito. Suporte algumas coisas, todos somos imperfeitos, não pense que voce é um anjo na terra. Talvez seus erros sejam mais gritantes que o dele, já pensou nisso? Caramba, pensei nisso agora, e começei a pensar em apagar esse texto inteiro. Mas depois eu reparei que, mesmo os melhores solos têm seus problemas. Suas pestes, seus insetos… De repente, um inseto pequeno chamado ciúme ataca a plantação, e deixa o lugar parecendo um cenário de filme de guerra.

Mas deixemos esses insetos de lado. O que temos que fazer é simplesmente tentar deixar nosso terreno fértil. Voce deve estar perguntando “mas não é ele que tem que cuidar do meu coração”? Claro que não. O que você está plantando é para ele, mas o coração é seu. Então cuide para que o ciúme não ataque a plantação toda. Só um pouco. Escolha os produtos que vai usar para enriquecer o solo, mas não espere nunca que ele pegue uma enxada para te ajudar. Ele vai fazer isso no começo, mas depois seu terreno vai ser só um terreno. Cuide de tudo, mas principalmente, cuide da casa no canto, lá no cantinho, lembra,na ilustração do cerrado? Pois é. E porque? Porque ali, na casinha, está o seu amor próprio. Se voce não cuidar da sua casinha, seu amor próprio vai embora, e voce vai cuidar da plantação sem notar. Quando vier os tempos de tempestade, sua casinha, que serviria de abrigo, vai estar cheia de buracos, infiltrações, a porta caída, sem luz… Aí, sabe o que vai acontecer? A pessoa que está sendo homenageada no seu “terreno”, vai partir para outro terreninho, onde não tem uma rosa plantada. Mas a “casinha” é uma mansão. Pense nisso também. Não é a fartura da sua horta que vale, e sim o tamanho do seu amor próprio. É só reparar.

Viu só, como o título condiz com o texto? No começo você nem pensava no coração como uma plantação. Depois pensou em alimentar sempre seu coração, mas se esqueceu da casinha. Tsc, tsc…. Não se preocupe, eu ainda to reconstruindo a minha.

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Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
  • Rainbow
  • Yngwie Malmsteen