Ele sentia que a morte ia chegar
Mesmo ao respirar
Sabia que um momento ela poderia parar
Assim que o inverno chegar
O vento frio, uma carta trará
Desesperado ele a lerá
Sabendo que sua morte ia chegar
Ao de súbito percorrer
Com os olhos o que deixaria ao morrer
Não pode deixar de estremecer
Pois nem mais o chá conseguiria beber
Sem pensar no dia que iria morrer
Seu velho hábito de sorrir
Ao pensar nas coisas porvir
Desaparecera com um leve ruir
De uma porta a se abrir
Ele lá parado
Por vezes apavorado
De ver o vulto ali, estacado
De repente, ao seu lado
Com o olho esbugalhado
Completamente extasiado
Olhando para o rosto suado
Daquele que estava amendrontado
Mortificado
Naquela poltrona sentado
O jornal ao seu colo pousado
O gato deitado no sofá fugira assustado
Talvez ficara enauseado
Com o cheiro acre excretado
Por aquele corpo, outrora rebentado
Não sabia se de tiro fora executado
O corpo escondia-se abrigado
Num capote todo rasgado
E outrora costurado
Talvez o carrasco, coitado
Tivesse usado em seu ultimo condenado...
Mas o que era aquilo?
Que afligia o homem, antes tão tranqüilo?
Que conseguia falar do universo desconhecido
Como se fosse um livro esquecido
Por gerações procurava com afinco
Maneiras de burlar aquele segundo infinito.
Sim, a morte
Dessa vez o homem não teria tanta sorte
Se por ventura houvesse um motivo torpe
Uma troca, uma barganha simples, um dote
Que não a fizesse ser por agora sua consorte
Ao adentrar os muros da triste morte
Morte
Quando vier, estarei preparado para ti, morte!
Com armas na mão, segurando com pulso forte
Apertarei o gatilho, meu chumbo contra seu capote
Venha agora, não deixarei restar de ti nem um filhote!
Depois de ti, o mundo será minha estrela do norte!
Assim ficou o homem a divagar
Enquanto sua alma ela veio buscar
O chá na mão a esfriar
O jornal no colo a repousar
Seus olhos, para o nada olhar
Enquanto o gato fugia a miar
E o homem, coitado, ainda a se preparar
Para quando a morte chegar...
1 comentários:
cara, tenho q te dizer vc escreve muito bem mesmo!
gostei muito do poema
grande abraço!
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