quarta-feira, 29 de julho de 2015

O PALCO

Era uma apresentação num palco aleatório qualquer. Ninguém queria saber do palco. Na verdade, ninguém queria saber sequer de quem estava se apresentando ali.
O apresentador mostrou-se tímido. Inicialmente, falou de suas desgraças, o que causou um bom alvoroço entre os espectadores. Todos adoram uma tragédia que os fazem esquecer de suas vidas.
A narração de sua vida prosseguiu. Nas partes que ele considerava como "felizes", as pessoas mostravam-se cansadas e sonolentas. Um bocejo aqui e ali, um espirro, uma tosse, uma mãe ralhava com um filho pequeno.
Contou sobre os planos que tinha para sua vida. Algumas pessoas riam timidamente, outros olhavam incrédulos e depreciativamente. "Duvido"... uma pessoa sussurrou na platéia, em volume suficiente para que o apresentador ouvisse.
Falou um pouco da vida alheia, e agora sim, conseguiu cativar o público. Histórias da sua família, fofocas sobre seus amigos, isso sim fazia sucesso. Todos amam uma fofoca, algo para compensar suas vidas.
Mas o apresentador parou na metade de uma afirmação. Do que adiantaria para qualquer um falar da vida alheia, sendo que ele mesmo já contara sobre sua vida, seus planos, algo que deveria motivar os espectadores e ninguém ligou a mínima? Será que a platéia era daquele tipo que queria ver sangue no palco?
Começou então a pedir ajuda a todos. Alguém ali teria uma palavra amiga para dizer, algo que o consolasse, que o fizesse continuar o espetáculo, que saísse daquele palco e começasse a viver nos bastidores, dando continuidade a um trabalho que ninguém precisaria saber?
Mas o silêncio reinava. Uma pessoa gritou jocosamente "continue falando daquela outra pessoa, o que aconteceu com ela?"
Então o apresentador ali parado entendeu. Não bastava às pessoas ter o poder de ajudar alguém. Não. De fato, pouquíssimas pessoas estariam dispostas a ajudá-lo. A maioria só se interessava em transformá-lo num mártir, aquele exemplo de como não fazer as coisas. Coisas essas que elas mesmas faziam. Todos compartilham a mesma desgraça, então lide com ela como qualque um de nós.
"É isso aí", disse o apresentador. "Estou chegando ao meu final".
Ninguém disse nada. Nem aplaudiram. Começaram a levantar, espreguiçar e procurar a saída. "Viemos até aqui pra isso?", perguntou alguém.
O apresentador, com lágrimas nos olhos, compreendeu. Seu show não fora bom o suficiente para uma palma sequer. O espetáculo era medíocre demais. Sua vida parecia medíocre demais aos olhos de todos. Sem dizer mais nada, pegou uma arma e estourou os miolos. O público foi pego de surpresa, tiraram umas fotos, postaram nas redes sociais. Mas foi só.
Quando perguntado sobre o que achou do espetáculo, alguém só disse "ele era muito grosseiro e depressivo. Espero que ele nunca faça outra apresentação".
Quando estamos no palco da vida, o que interessa para a grande maioria é somente quantas coisas você sabe sobre outra pessoa. Quantas desgraças viveu. Ninguém se importa se você precisa ou não de ajuda. A grande ironia é que todos, embora cercados de amigos e familiares, interpretamos nosso papel sozinhos, e sozinhos estaremos no final.

Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
  • Rainbow
  • Yngwie Malmsteen