terça-feira, 8 de junho de 2010

O Rapaz e a estrada.

 

the-road

Essa é a história de um garoto que não sou eu, que não é você, que não é ninguém. Desde pequeno ele quis o mundo, mas o que ele conseguiu foi uma alienação de seus sonhos, e ele tomou a estrada que poucas pessoas seguem.

A vegetação naquele lugar era grossa, difícil de abrir caminho. Mas o rapaz não quis saber. Ele continuou seguindo pelo caminho, ora desviando dos espinhos, ora recebendo no rosto toda força do impacto. Ainda conseguia ouvir, durante seu percurso, a voz de seus amigos que o chamavam e pediam para desistir. Mas o caminho que os outros estavam não era o caminho que ele queria seguir. Não havia sentido naquilo tudo que ele vira desde pequeno. Deveria haver mais alguma coisa no mundo além do que ele “aprendera” a amar.

No meio do caminho, ele encontrou outras pessoas. Alguns deles estavam perdidos, outros tinham parado no meio do caminho e construíram ali sua habitação, tamanha era a fraqueza para percorrer toda aquela via Crucis. Alguns outros eram personagens de suas fantasias. Ele aprendeu a conviver com fadas, elfos, bruxas, vampiros e lycans, espíritos bons e ruins, e então ele começou a achar que o caminho não era tão solitário quanto antes.

Foi ali que ele entregou seu coração pela primeira vez. O garoto sem nome adotou um apelido: “marido”. Viu o sol poucas vezes, mas isso não importava, pois achava que estava feliz. Todos os dias ele acordava achando que sua vida tinha virado o conto-de-fadas que ele vira no passado. Queria ficar ali para sempre.

Mas tamanha ironia do destino, o lugar onde ele estava morando era vivo, e começou a manifestar-se de forma complicada. As pessoas, outrora tão felizes, mostraram toda sua tristeza por não conseguir sair daquele lugar. “Mas eles nem sequer tentavam”, pensou o garoto. Ele decidiu ajudar aquele povo a sair dali. Conversou com um, incentivou outro, e então aconteceu justamente o contrário. Ele foi expulso daquele lugar onde estava, porque era “alienado” demais para ficar ali.

Ele ainda ficou parado na beira do caminho onde fora largado pelo povo, pensando o que tinha acontecido de errado. Mas não teve muito tempo a perder com isso. Ouviu canções que gostava, ouvia risos em algum lugar, e rapidamente passou a perseguir aqueles sons. Viu que, conforme ia andando, a vegetação tornava-se mais espessa e menos seca. Exultou quando achou a primeira folha verde na relva. Passando por ela, uma árvore enorme apontava o caminho que deveria seguir. E além dela, um oásis aguardava por ele. Correu ao encontro daquele sonho, viu cachoeiras, ninfas, viu crianças rindo e correndo, viu uma banda tocando antigas cantigas com um compasso incrivel. Foi bem recebido por todos. Tornou-se parte de uma família que vivia rindo, e ele foi ajudado a curar suas feridas. O passado tornou-se uma pintura na parede do coração, e ele pensou em seguir seu rumo.

Beautiful-Seneca-Waterfall

Mas o povo dali disse que não seguiria o caminho com ele. Para eles, o caminho acabava ali. Não havia necessidade de continuar procurando o que eles tinham achado. O garoto pensou em todo o povo parado no meio dos espinhos, que ele tinha convivido por algum tempo, achou que era impossível parar de seguir em frente. Tinha que haver mais alguma coisa além de acordar e dormir, de comer e brincar, de cantar e sorrir. Mas o povo dali não sabia responder o que era isso que ele estava procurando.

Ele decidiu partir sozinho. Largou na cachoeira o colar de flores que tinha recebido, jogou fora o anel que recebera do povo dos espinhos e seguiu em frente. Viu o sol parado por trás dele, recusando a sua luz a cada passo que ele dava. Mas não poderia haver só aquilo, pensava o rapaz sem nome. Ele correu o máximo que pôde para fugir das memórias. Elas eram sorrateiras e o feriam toda vez que o alcançavam.

Andando, andando e andando, chegou a uma casa abandonada. Achou-a simpática e conservada. Entrou ali, chamou pelo proprietário que não respondeu, mas achou uma carta na porta. Dizia que o dono partiu para procurar o que ele achava que tinha perdido, e não tinha pretensão de voltar enquanto não achasse. O garoto exultou. Então havia pessoas como ele! Depois que descansar, pensou ele, eu vou atrás dessa pessoa.

Mas ele descansava, descansava, e nunca estava descansado para partir. Sempre havia alguma coisa a fazer na casa, uma reforma, uma limpeza, uma pintura…e ele ficou por ali por muito tempo reformando aquele lugar. Esquecera-se completamente que aquela casa não era dele. Mas não importava. Queria cuidar de tudo. Quem sabe um dia, quando o trabalho estivesse pronto, ele teria força para sair dali.

Um dia, resolveu limpar as janelas do andar de cima da casa. Quando o vidro tornou-se claro, avistou ao longe uma pessoa que chamou sua atenção. Ela era diferentemente igual a tudo o que tinha visto antes. Algo como a junção do povo dos espinhos com o pessoal que morava no oásis. Logo viu-se olhando para aquela figura. O jeito como arrumava o cabelo, o jeito de se vestir, o modo de falar, de sorrir, tudo aquilo chamou a atenção.

nicole-kidman-vogue-italy-pics

Ela também reparou que ele estava olhando. Chamou-o para fazer companhia. Ele correu, saiu da casa e foi até ela. Conversaram por horas. Sobre os medos dele, ela deu conselhos. Sobre a insegurança dela, ele ofereceu ajuda. Sobre os amores passados, os dois falaram, mas alguma coisa soava diferente.

Ele voltou para casa, e ela ficou na casa dela. Eles se visitavam de vez em quando. A relação ficou mais forte, e o garoto começou a pensar nela. Ajudou o quanto pôde, ela percebeu o que ele sentia. Eles decidiram fazer sua história. O garoto sem nome pensou em tudo o que tinha passado, sobre as decepções que tinha sofrido, mas achava que aquilo não aconteceria de novo. Pensou em entregar seu coração de novo.

Mas no dia em que ia dá-lo de presente, ele viu que ela estava diferente. Já não sorria com ele, não tinha paciência para ouvi-lo. Ele viu então o que ela escondia. Voltou para casa e lá chorou tudo o que não tinha chorado por anos. O coração esvaziou-se ali. No dia seguinte, para variar, acordou cansado. Mas isso não seria mais impecilho. Ele partiria daquele lugar. Já tinha ficado tempo demais parado ali. Colocou o bilhete de volta na porta, com algumas alterações. E partiu. Ainda ouvia a vizinha e chamando por ele, mas ele não olhou para trás. A estrada seria sua única companhia.

Ainda se fala no rapaz sem nome, que tomou seu rumo para algum lugar. O povo da cachoeira fala que ele era louco. O povo dos espinhos fala que ele era um medroso. A vizinha não fala muito nisso.

Se ele conseguiu encontrar o que procurava, eu não sei. Na verdade, eu nem sei se eu mesmo o encontrei ou se me contaram essa história. Talvez sejamos nós mesmos um pouco como esse garoto sem nome. Ou então somos o povo dos espinhos, ou a familia da cachoeira… Somos quem queremos ser.

caminhando_a_chuva1

0 comentários:

Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
  • Rainbow
  • Yngwie Malmsteen