quarta-feira, 17 de abril de 2019

GASLIGHTING



"Esse é o meu jeito", disse, cruzando os braços e se virando. Não queria manter contato visual. Sabia que, mantendo essa postura, conseguiria plantar o medo, desmontar o seu argumento.

Enquanto isso, você, que tinha tantos argumentos pra provar seu ponto, se vê marginalizado, confuso e humilhado por tal afirmação. Não que estivesse errado, coisa que você notará eventualmente, num futuro próximo. Mas porque a maldita semente está lançada. Aquela coisa que ouvimos desde pequeno, o eterno "você está exagerando", "está fazendo tempestade em copo d'água", "está vendo coisa aonde não tem".  Todo nosso chão, pavimentado, cheio de cerâmica, parece ter virado um convés de um navio indo à pique: todo furado, com água entrando por todos os lados, um aviso que o naufrágio é iminente. 

Mas a outra pessoa está ali, de braços cruzados, não de costas pra você (afinal, ela ainda quer ter certeza que as palavras lhe atingiram), mas de perfil, meio de lado, sabe? Igual à postura que sua mãe fazia quando queria mostrar que não adiantava nada você pedir socorro ao seu pai, a decisão era aquela e pronto.

Vai lá, ache as palavras e continue falando. Você está certo, não é? Não foi você que tratou bem porque tinha no coração a premissa de "vou tratar bem porque se eu tratar alguém de uma forma errada, isso dói em mim também"?

Não parece que a outra pessoa está sentindo dor, não é mesmo? Aliás, a facilidade, o traquejo, a melodia das palavras saindo daquela boca que outrora vc desejava tanto foram tão suaves, decididas, nervosas, imperativas e doentiamente corretas para ela, que toda sua mentalidade acabou de se esvair pelo vaso.

O silêncio está tornando o jogo mais fácil para ela, pois antes havia o medo de perder. Agora, há a exultante sensação de que ela conseguiu entrar na porra da tua cabeça, conseguiu plantar aquela erva daninha do conformismo, regado com agressividade, podada com coação e colhida com rancor mudo.
"Agora você não fala nada, né?" você ouve. É claro que não fala nada! A merda da sua alma está desejando firmemente sair do seu corpo e ir se esconder no sétimo círculo do inferno! Mas, mesmo contra a sua vontade, sai aquela frase imbecil, idiota, frágil, estúpida, insossa, vitimista: "O que você quer que eu fale?"

É, cara... já era! Ela tinha tanta convicção que sua resposta seria essa que nem se dá ao trabalho de se aproximar. Ela só ri e fala "tá vendo só? O SEU problema é achar que eu quero o seu mal". Sim, você quer o meu mal. Caso contrário, não seria tão mesquinha a ponto de me abandonar quando precisei.
Sim, você quer meu mal, pois então não falaria a tonelada de merda que denigre a força de vontade de qualquer um, igual a sua família faz com todo mundo, sempre retrucando, arremedando, alfinetando e maltratando. 

Mas vai lá, otário. Fique em silêncio mesmo! Mostre a ela que está errado, mesmo que ela saiba que isso é um engodo, uma covardia. Seja o mesmo de sempre, não é isso que todos querem? Não é assim que a vida segue? Com dominadores e dominados? 

Você perdeu. De novo. Como sempre. Aceite sua insignificância. Quando for meditar, peça aos anjos que não estiverem ocupados rindo da sua desdita, que mude o coração da pessoa que você quer tanto. Seja mais um na multidão. Nós somos os mortos.







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Bem vindo a todos

Bem vindo a todos. Pegue uma cerveja, ou você prefere vodka? Tem rum também, conhaque...
Sabe de uma coisa, pegue você mesmo, fique à vontade. Curta o show, ele é único. Certifique-se de que tenha desligado o celular, porque isso aqui não tem hora e nem dia para acabar.
ENJOY...

Influências

  • Aerosmith
  • Blackmore's Night
  • Devil Driver
  • Impellitteri
  • Led Zeppelin
  • Lost Weekend
  • Motorhead
  • Pain
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